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Brasil: Entidades estrangeiras se unem contra o Escola Sem Partido

América do Sul/ Brasil/ 26.11.2018/ Fonte: educacao.estadao.com.br.

Mais de 150 entidades de 87 países adotam uma moção de emergência contra o projeto Escola Sem Partido. O documento foi aprovado por unanimidade nesta semana, durante a 6a Assembleia Mundial da Campanha Global pela Educação, no Nepal.

O texto teve o apoio de entidades de todos os continentes e países, como EUAReino UnidoHolandaSuíça e Dinamarca. Também estavam no evento grupos como Oxfam, Save the Children e Action Aid, além de relatores da ONU.

O projeto de lei Escola Sem Partido (PL 7180/14) pode ser votado em uma comissão especial na próxima semana. A iniciativa prevê a proibição do que chama de «prática de doutrinação política e ideológica» pelos professores, além de vetar atividades e a veiculação de conteúdos que não estejam de acordo com as convicções morais e religiosas dos pais do estudante. Define, ainda, os deveres dos professores, que devem ser exibidos em cartazes afixados nas salas de aula. O projeto de lei também esteve no centro do debate sobre a escolha do futuro ministro da Educação.

O projeto de lei, porém, foi mencionado por entidades internacionais como um exemplo de uma tendência «preocupante».

De acordo com a moção, «o ultraconservadorismo de governos e movimentos tem atacado a pluralidade pedagógica, a liberdade de cátedra, a perspectiva da igualdade das identidades de gênero e orientações sexuais, além das de minorias étnico-raciais, e ao mesmo tempo, promovendo a militarização na educação».

«Como estratégia política, os agentes promotores do ultraconservadorismo têm incentivado a censura a professoras e professores por parte de estudantes e famílias, prática que tem se tornado cada vez mais frequente», apontou.  «Como exemplo, no Brasil, por meio do movimento «Escola sem Partido», e na Alemanha, por orientação do partido de extrema direita «Alternativa para a Alemanha», estudantes são incentivados a filmar suas aulas e viralizam publicações nas redes sociais, acusando injustamente professoras e professores de proselitismo ideológico, cientificismo e estímulo à sexualização de crianças e jovens, afirmando que estariam promovendo o que denominam de «ideologia de gênero», conceito falacioso difundido por fundamentalismos religiosos», alertam as entidades.

Fonte das notícias: https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,entidades-estrangeiras-se-unem-contra-o-escola-sem-partido,70002618908

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Escritor indígena é reconhecido em prêmio de literatura infantojuvenil

Por: Educação.

Autor de mais de 50 livros, Daniel Munduruku escreve para crianças e jovens como forma de orientá-los sobre a cultura de seu povo e dos demais

O Brasil ainda possui grandes barreiras em relação à valorização e reconhecimento de suas raízes indígenas. A História contada é voltada para o olhar europeu e no dia a dia não faltam estereótipos sobre os povos indígenas.

É costume um professor, antropólogo e jornalista, por exemplo, falarem sobre determinada etnia, e raramente, o indígena tem a oportunidade de espalhar a visão dele, a visão de seu povo sobre eles mesmos.

O indígena Daniel Munduruku – o segundo nome é a designação de seu povo étnico – nasceu em Belém, Pará, e vem se destacando por trazer esse outro olhar por meio de livros e em palestras em universidades no Brasil e mundo.

Prêmio Fundação Bunge desse ano, na área de letras, com o tema literatura infantojuvenil foi para Daniel. Essa premiação existe desde 1955 e tem como objetivo reconhecer cidadãos que atuem em ações de desenvolvimento da cultura e ciências no país. Entre os já selecionados estão Jorge Amado e Hilda Hilst.

O indígena é autor de mais de 50 livros voltados à cultura e luta indígena. Formado em Filosofia, licenciatura em História e Psicologia, Daniel é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Entre os prêmios já recebidos estão o Jabuti e o Tolerância, esse último reconhecido pela Unesco.

“Luto para que a cultura indígena não seja considerada simplesmente parte do folclore nacional, mas que esteja viva no currículo escolar”, defende. Cerca de 12 milhões de seus livros circulam em escolas públicas e privadas do país e fazem parte de material didático para a educação básica.

Aplicar as leis 10.639, de 2003 e 11.645, de 2008, que exigem que as escolas incluam no currículo “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” ainda é desafio nas escolas.

“Embora haja muito avanço a partir da sanção da lei, os professores ainda não têm muita informação e quase sempre repetem o que aprenderam quando eram estudantes, pois são vítimas de um sistema que sempre excluiu os povos indígenas. Nosso objetivo é que a cultura indígena saia do aspecto comemorativo e tenha um viés mais pedagógico e a literatura indígena é uma ferramenta importante neste processo de construção da identidade brasileira”, afirma o premiado.

Sobre o prêmio

Os candidatos não se inscrevem, são indicados pelas principais universidades e entidades científicas e culturais brasileiras. A seleção final é feita por especialistas da área.

Vida e Obra é a categoria da área de Letras: Literatura Infantojuvenil a qual Munduruku venceu. A ganhadora na categoria Juventude, foi Nina Krivochein, de 14 anos, autora de quatro livros.

Na categoria Vida e Obra na área de Ciências Agrárias: serviços ambientais para o agronegócio, o físico Silvio Crestana foi o selecionado. O engenheiro agrônomo Pedro Henrique Brancalion, professor na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, foi o escolhido na categoria Ciências Agrárias Juventude.

Os selecionados pelo Vida e Obra vão receber, cada um, medalha de ouro e R$ 150 mil. Na categoria “Juventude”, o prêmio é R$60 mil e medalha de prata.

A cerimônia de entrega será em 13 de novembro, em São Paulo.

Fonte do comentário: http://www.revistaeducacao.com.br/escritorindigena/

 

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Libro: Contra o tempo Filosofia prática do instante

Por CLACSO

«Para contar nossos dias Luciano Concheiro apela a uma escritura limitada porém incisiva; ajustada a esses tempos de leitura entrecortadas. Suas reflexões chegam aos leitores em pequenas cápsulas breves e concisas, dotadas de uma sintaxe tão clara como reveladora. No reino do curto prazo, suas verdades podem ser lidas em um instante.»

Do prólogo de Pablo Gentili e Nicolás Arata


Fuente de la reseña:
 https://www.clacso.org.ar/libreria-latinoamericana/libro_detalle.php?id_libro=1443&pageNum_rs_libros=0&totalRows_rs_libros=1338

Link para descarga: https://www.clacso.org.ar/libreria-latinoamericana/contador/sumar_pdf.php?id_libro=1443

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Brasil: Currículo escolar de São Paulo aborda Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Redacción: ONUBR

Qual educação queremos fornecer hoje para formar os cidadãos de nossa cidade em 2030? Foi essa a pergunta que direcionou a parceria da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil.

O município construiu um novo currículo do Ensino Fundamental, publicado em dezembro de 2017, que de forma inédita inclui a Agenda 2030, relacionando seus objetivos de aprendizagem a cada um dos 17 ODS.

 

Qual educação queremos fornecer hoje para formar os cidadãos de nossa cidade em 2030? Foi essa a pergunta que direcionou a parceria da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil.

O município construiu um novo currículo do Ensino Fundamental, publicado em dezembro de 2017, que de forma inédita inclui a Agenda 2030, relacionando seus objetivos de aprendizagem a cada um dos 17 ODS.

A experiência será apresentada nesta segunda-feira (23) na Reunião Técnica Regional de Alto Nível da América Latina e Caribe, evento preparatório para a 2ª Reunião Regional de Ministros de Educação da América Latina e Caribe, que acontece em Cochabamba (Bolívia) nos dias 25 e 26 de julho.

Com o novo currículo, a Secretaria Municipal de Educação do Município de São Paulo irá formar cidadãos globais, entendendo que todos (governos, agências da ONU, sociedade civil organizada, setor privado e cada cidadão de cada país) têm responsabilidades para que o mundo consiga atingir os ODS, adotados em 2015 pela Assembleia Geral da ONU.

Dentro dessa perspectiva, a Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo está colaborando para o cumprimento dos objetivos globais, envolvendo seus gestores, professores e estudantes, que somam mais de 1 milhão de pessoas.

O novo currículo do Ensino Fundamental da cidade busca ofertar uma educação de qualidade, conforme previsto no ODS 4, e colaborar para a transformar São Paulo em uma cidade sustentável, conforme previsto no ODS 11. O currículo é fator essencial para a promoção de uma educação inclusiva e equitativa de qualidade e que inclua a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), em consonância com a Agenda 2030.

No processo de construção do novo currículo, a escola passou a ser vista em quatro diferentes dimensões: a escola enquanto espaço físico, as suas práticas pedagógicas, seus processos e governança e as relações com os ODS.

No espaço físico, passa a se avaliar questões como a gestão ambiental e acessibilidade da escola. Nas práticas pedagógicas, são abordadas não somente os conteúdos e práticas cognitivas, mas também as habilidades socioemocionais e comportamentais dos alunos.

Nos processos de governança é levada em consideração a teia social na qual a escola está inserida e o processo participativo de decisões. E por fim, na relação com os ODS a ideia é que os estudantes incorporem os ODS em suas práticas diárias.

A abordagem é centrada no estudante. “Queremos formar os alunos na integralidade, queremos que eles incorporem modos de vida mais sustentáveis, e que incluam as metas dos ODS em suas vidas”, diz o diretor do Núcleo Técnico de Currículo da SME, Wagner Palanch.

Implementação, lições aprendidas e monitoramento

Após a publicação do documento, o desafio consiste na implementação do novo currículo de São Paulo. Para isso, os membros das Diretorias Regionais de Educação estão sendo formados para que eles mesmos consigam repassar as informações para os professores das escolas de suas regionais.

Os professores, por sua vez, devem ser capacitados para conseguirem visualizar os desafios da escola e buscar as soluções junto aos alunos. Essas soluções devem ser relacionadas aos ODS e adaptadas para a realidade de cada escola e da comunidade em que ela está inserida. Nesse processo, é preciso conscientizar os professores para que olhem o currículo como um todo e não somente a parte referente à disciplina lecionada.

Como todo projeto-piloto, é importante listar as lições aprendidas. Para a consultora Barbara Oliveira, o principal ensinamento é que existe a necessidade de uma participação ainda maior na construção do currículo, principalmente no momento inicial do seu desenvolvimento. Todos os atores interessados devem ser envolvidos desde o começo e é preciso fazer o exercício de trazer o processo participativo antes mesmo de relacionar o currículo com os ODS.

Já o segredo para fazer com que o processo de construção e implementação de um currículo seja exitoso e realmente incorporado pelas escolas é, segundo Wagner Palanch, diretor de currículo da SME, focar na territorialidade e na identidade local.

“O currículo de São Paulo tem a cara da cidade”, afirma o diretor da SME, Wagner Palanch. A ideia, portanto, é apontar caminhos para a construção de um currículo que traga essa identidade, e não simplesmente replicar o currículo de outras localidades em outros municípios ou em outros estados.

As próximas fases visam ao monitoramento de resultados e ao compartilhamento do trabalho que foi feito em São Paulo com outros locais. Uma das ações a ser realizada com esse objetivo, é a apresentação do processo de construção do currículo de São Paulo na reunião de ministros de Educação da América Latina e Caribe. A intenção é inspirar a construção de novos currículos em outras localidades do Brasil e do mundo utilizando processos semelhantes ao que foi realizado em São Paulo.

Para a coordenadora de Educação da UNESCO no Brasil, Rebeca Otero, “o processo de construção do novo currículo realizado pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo pode ser replicado inclusive em outros lugares do mundo”.

Ela afirma que aproveitar a discussão mundial sobre os ODS, que teve a participação de especialistas de todo o mundo e foi acordada pelos Estados-membros da ONU, é uma ideia acertada quando se pensa em Educação para o Desenvolvimento Sustentável e para a Cidadania Global. “Isso é qualificar a Educação e torná-la transformadora. Não estamos apenas passando conhecimentos cognitivos ao aluno, estamos formando cidadãos”, finaliza a coordenadora.

O secretário de Educação da cidade de São Paulo, Alexandre Schneider, reforça que todo o material elaborado pela Secretaria é um Recurso Educacional Aberto (REA), ou seja, pode ser utilizado por outras secretarias de educação ou qualquer outra instituição ou indivíduo interessado.

De acordo com o secretário, “precisamos mostrar que dá para fazer o currículo de uma forma rápida e com participação de alunos, professores, comunidades, e que trazer os ODS para o currículo ajuda no processo de formação integral dos alunos”. “Se levarmos em consideração que estamos conversando com cerca de 1 milhão de pessoas, ao menos cinco horas por dia, temos o potencial de trazer mudanças reais para o município até 2030”.

Fuente: https://nacoesunidas.org/curriculo-escolar-de-sao-paulo-aborda-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/

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Portugal: Ministério determina que todos os alunos vão a exame, com ou sem avaliação final

Europa/Portugal/12.06.18/Fonte: www.rtp.pt.

O Ministério da Educação (ME) enviou orientações às escolas a determinar a realização de provas finais e exames nacionais para todos os alunos, mesmo que ainda não tenham sido atribuídas notas internas, segundo um comunicado hoje divulgado.

«Na eventualidade de haver alunos cujas avaliações internas não tenham sido ainda formalmente atribuídas à data em que os exames ou outras provas nacionais se realizam, garante-se que estes alunos serão condicionalmente admitidos aos mesmos», lê-se no comunicado do ME.

A tutela garante ainda que «o processo de matrículas para o ano letivo 2018-2019 não sofrerá alterações, mantendo-se o calendário que resulta do despacho das matrículas» e que «acompanha de perto este processo, de modo a assegurar o direito dos alunos à avaliação e à realização das suas provas com a desejável tranquilidade».

Os sindicatos dos professores decretaram greve às avaliações de fim de ano do ensino básico e secundário, sendo que atualmente só está em curso a paralisação convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.T.O.P.), a decorrer até 15 de junho e com incidência nos conselhos de turma dos alunos em ano de provas finais e exames nacionais, pondo em causa a divulgação das avaliações internas atribuídas pelos docentes das turmas a tempo destas provas.

Fonte das notícias: https://www.rtp.pt/noticias/educacao/ministerio-determina-que-todos-os-alunos-vao-a-exame-com-ou-sem-avaliacao-final_n1081192

 

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Brasil: Ministros da Educação tiveram média de dois anos de gestão desde 1979

América do Sul/ Brasil/ 05.06.2018/ Fonte: www.jb.com.br.

Os ministros da Educação do país desde 1979 tiveram um curto período de gestão, alcançando em média somente dois anos, devido à instabilidade provocada por crises políticas e econômicas. A conclusão é do jornalista Antônio Gois, autor do livro Quatro décadas de gestão educacional no Brasil.

Segundo o autor, os “tempos conturbados” acabam por deixar a cada ministro um curto período de gestão, em uma média de cerca de dois anos. “Afinal, o país atravessou nessas quase quatro décadas períodos de graves crises econômicas e de instabilidade política, como o impeachment de dois presidentes da República”, enfatiza Gois.

Análise das políticas públicas de educação

A publicação faz uma análise da evolução das políticas públicas de educação a partir dos depoimentos de 13 ex-ministros e uma ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

As entrevistas abrangem desde o período anterior à redemocratização do país, durante o governo do general João Batista Figueiredo (1979-1985), até o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016).

Esses cenários complexos também marcaram, de acordo com o jornalista, as decisões dos ex-titulares da pasta da educação. “Foram tempos difíceis, mas também de avanços, a começar pela transição democrática após o fim de uma ditadura militar de 21 anos”, acrescenta. Além disso, esses gestores tiveram de enfrentar deficiências estruturais do país.

O ex-ministro do primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o atual senador Cristovam Buarque (PPS-DF), cuja gestão durou somente cerca de 12 meses, destaca, por exemplo, que tentou encarar como prioritária a diminuição do analfabetismo no país.

“Para mim, alfabetizar não é nem uma questão educacional, é primeiro uma questão de direitos humanos. A democracia acabou com a tortura nas cadeias, não acabou nas ruas. Segundo, eu sou de uma geração que viu João Goulart – Paulo Freire com João Goulart – falando em erradicar o analfabetismo, que viu Cuba erradicar o analfabetismo depois de Fidel Castro chegar ao poder, que viu os próprios militares preocupados com alfabetização. Isso fica na cabeça da gente, então eu tinha como meta a alfabetização”, diz Cristovam, em seu depoimento.

Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), com dados referentes a 2016, o Brasil ainda tem cerca de 11,8 milhões de analfabetos. A pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica que 7,2% das pessoas maiores de 15 anos não sabem ler, sendo que, entre os negros, o percentual chega a 9,9%.

Fonte das notícias: http://www.jb.com.br/pais/noticias/2018/06/04/ministros-da-educacao-tiveram-media-de-dois-anos-de-gestao-desde-1979/

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Tempo de caos

Boaventura de Sousa Santos

O bombardeamento de alvos sírios onde supostamente se produzem ou armazenam armas químicas supostamente usadas pelo governo de Bashar al-Assad contra os rebeldes deixou os cidadãos do mundo confusos, num misto de perplexidade e de cepticismo. Apesar do bombardeamento (imagem apropriada no caso) mediático dos meios de comunicação ocidentais, tentando convencer a opinião pública das mais recentes atrocidades do regime de al-Assad; apesar da quase unanimidade dos comentadores políticos de que se tratou de uma intervenção humanitária, de uma punição justa e de mais uma prova da vitalidade da “aliança ocidental”; apesar de tudo isto, os cidadãos do mundo ocidental (dos outros nem se fala), sempre que consultados, mostraram as suas dúvidas a respeito da narrativa mediática e manifestaram-se maioritariamente contra os ataques. Por quê?

As consequências

Porque os cidadãos minimamente informados têm uma memória mais apurada que os comentadores e porque, sem serem peritos sobre as causas destes actos bélicos, são peritos no conhecimento das suas consequências, algo que escapa sempre às contas dos ditos comentadores. Lembram-se que em 2003 a invasão do Iraque foi justificada pela existência de armas de destruição massiva que se provou mais tarde não existirem. Lembram-se que as fotos que na altura foram mostradas eram fotomontagens para dar credibilidade à mentira. Lembram-se que, tal como agora, o ataque foi feito na véspera de chegar ao país uma comissão independente de peritos para averiguar a existência ou não de tais armas. Lembram-se que essa mentira deixou no terreno um milhão de mortos, um país destruído e rendeu chorudos contratos de reconstrução entregues a empresas norte-americanas (Halliburton, por exemplo) e de exploração do petróleo às empresas petrolíferas ocidentais. Lembram-se que em 2011 a mesma aliança destruiu a Líbia, tornou-a num antro de terroristas e de negociantes de tráfico de refugiados e emigrantes e rendeu o mesmo tipo de chorudos contratos.

Lembram-se que a guerra da Síria já causou 500.000 mortos, 5 milhões de refugiados e 6 milhões de pessoas deslocadas no interior da Síria. E sobretudo, talvez pela misteriosa astúcia da razão de que falava Hegel, lembram-se do que lhes não é dito pelos media. Lembram-se que naquela região estão em curso dois genocídios perpetrados por terrorismo de Estado de que quase não se fala porque os estados agressores são “nossos” aliados: o genocídio dos yemenitas pela Arábia Saudita e o dos palestinianos por Israel.

Estas são as consequências mais visíveis. Mas há outras vítimas de que o cidadão comum tem uma ideia mais vaga, uma suspeita que por vezes não é mais que um mal-estar. Saliento três. A primeira vítima é o direito internacional que foi mais uma vez violado, uma vez que tais intervenções bélicas só são legítimas em caso de legítima defesa ou sob mandato do Conselho de Segurança da ONU, condições que não se verificaram. Os tratados bilaterais e multilaterais estão a ser deitados no lixo um atrás do outro, ao mesmo tempo que as guerras comerciais se acirram cada vez mais.

Estamos a entrar numa nova Guerra Fria com menos regras e mais mortes inocentes? Estamos a caminho de uma terceira guerra mundial? Onde estará a ONU para a evitar pela via diplomática? Pode esperar-se outra coisa de países como a Rússia, a China ou o Irão senão que se afastem ainda mais dos países ocidentais e do falso multilateralismo destes e que organizem as suas próprias alternativas de cooperação? A segunda vítima são os direitos humanos. A hipocrisia ocidental atingiu o paroxismo: a destruição militar de países e a morte de populações inocentes tornou-se no único meio de promover os direitos humanos. Aparentemente, deixou de haver outros meios de promover os direitos humanos senão violando-os. A democracia de tipo ocidental não sabe florescer senão nas ruínas. A terceira vítima é a “guerra contra o terrorismo”. Ninguém de boa vontade pode concordar com a morte de vítimas inocentes em nome de um qualquer objectivo político ou ideológico, e muito menos os países que desde há vinte anos têm dado total prioridade à guerra contra o terrorismo, os EUA e seus aliados. Sendo assim, como se pode compreender que estejam a ser financiados e armados pelas potências ocidentais grupos de rebeldes da Síria que são reconhecidamente organizações terroristas e que, tal como Bashar al-Assad, usaram no passado armas químicas contra populações inocentes? Refiro-me particularmente à frente al-Nusra, conhecida como a Al Qaeda da Síria, um grupo extremista salafista que quer implantar um Estado islâmico. Aliás, o mais fiel aliado dos EUA, a Arábia Saudita, é quem tem sido acusado mais frequentemente por instituições norte-americanas de financiar grupos extremistas e terroristas.

Quais são os objetivos ocultos de uma guerra contra o terror que financia e arma terroristas?

As causas

Os cidadãos comuns têm mais dificuldades em identificar as causas porque estas se furtam ao ruído das notícias. É convencional distinguir entre causas próximas e estruturais. Entre as causas próximas, a disputa sobre o gasoduto do gás natural tem sido a mais mencionada. As grandes reservas de gás natural da região do Qatar e Irã têm dois trajetos alternativos para chegar à rica e voraz consumidora Europa: o gasoduto do Qatar através da Arábia Saudita, Jordânia, Síria e Turquia, e o gasoduto do Irã através do Irã, Iraque e Síria. Por razões geopolíticas os EUA favorecem o primeiro trajeto e a Rússia, o segundo. Bashar al-Assad também preferiu o segundo por favorecer apenas governos xiitas. A partir de então passou a ser um alvo a abater pelos ocidentais. O Major Rob Taylor, professor do US Army´s Command and General Staff College, escreveu no Armed Forces Journal de 21 de Março de 2014: “Visto através de uma lente geopolítica e econômica, o conflito na Síria não é uma guerra civil; é antes o resultado do posicionamento de vários atores internacionais no tabuleiro do xadrez geopolítico, preparando-se para a abertura do gasoduto em 2016”.

As causas estruturais são talvez mais convincentes. Como tenho vindo a defender, estamos num momento de transição entre globalizações do capitalismo. A primeira globalização ocorreu entre 1860 e 1914 e foi dominada pela Inglaterra. A segunda ocorreu entre 1944 e 1971 e foi dominada pelos EUA. A terceira iniciou-se em 1989 está agora a terminar. Foi dominada pelos EUA, mas com crescente participação multilateral da Europa e da China. Nos intervalos das globalizações, a rivalidade entre países aspirantes ao domínio aumenta e pode redundar em guerras entre eles ou entre os aliados de cada um. A rivalidade neste momento é entre o EUA, um império em declínio, e a China, um império ascendente. Segundo o estudo “Tendências globais, 2030” do insuspeito National Intelligence Council dos EUA, em 2030 “a Asia será o motor da economia mundial como foi até 1500” e a China pode vir a tornar-se a primeira economia do mundo.

A rivalidade intensifica-se e não pode ser de enfrentamento direto porque a China é já hoje muito influente na economia interna dos EUA e um credor importante da sua dívida pública. A guerra comercial é fundamental e atinge as áreas de alta tecnologia porque quem dominar estas (a automação ou robótica) dominará a próxima globalização. Os EUA só investem em tratados que possam isolar a China. Como a China é já demasiado forte, tem de ser enfrentada através dos seus aliados. O mais importante é a Rússia, e os acordos recentes entre os dois países prevêem transações comerciais, sobretudo de petróleo, não denominadas em dólares, uma ameaça fatal para a moeda de reserva internacional. A Rússia em caso algum poderia vangloriar-se de uma vitória na Síria (uma vitória contra os extremistas terroristas, diga-se de passagem), uma vitória que esteve a ponto de obter devido ao suposto desnorte da política de Obama ao não incluir a Síria na lista das prioridades. Por isso, era preciso encontrar um pretexto para regressar à Síria e continuar a guerra por mais alguns anos, como acontece no Iraque e no Afeganistão. A Coreia do Norte é outro aliado e tem de ser hostilizado de modo a embaraçar a China. Finalmente, a China, como todos os impérios ascendentes, investe em (falsos) multilateralismos e por isso responde à guerra comercial com abertura comercial. Mas além disso tem investido concretamente em acordos multilaterais limitados que visam criar alternativas ao domínio econômico e financeiro norte-americano.

O mais importante desses acordos foi o BRICS que incluía, além da China e Rússia, a Índia, a África do Sul e o Brasil. Os BRICS chegaram a criar um banco mundial alternativo. Era preciso neutralizá-los. A Índia desinteressou-se do acordo desde que Modi chegou ao poder. O Brasil era o parceiro particularmente estratégico porque se articulava, ainda que relutantemente, com uma alternativa mais radical que emergira na América Latina por iniciativa de alguns governos progressistas, com destaque para a Venezuela de Hugo Chávez. Refiro-me à ALBA, UNASUR, e CELAC, um conjunto de acordos político-comerciais que visavam libertar a América Latina e as Caraíbas da secular tutela dos EUA. O país mais vulnerável dos BRICS, talvez porque o mais democrático de todos eles, era o Brasil. A sua neutralização iniciou-se com o golpe institucional contra a Presidente Dilma Rousseff e continuou com a prisão ilegal de Lula da Silva e o desmonte de todas as políticas nacionalistas empreendidas pelos governos do PT.

Curiosamente, na África do Sul, Jacob Zuma, sem dúvida um líder corrupto e entusiasta dos BRICS, foi substituído por Cyril Ramaphosa, um dos homens mais ricos da África (menos corrupto que Zuma?) e adepto incondicional do neoliberalismo global. A Cúpula das Américas que teve lugar em Lima nos passados dias 13 e 14 de Abril, que os média europeus quase não noticiaram, foi uma peça geopolítica muito importante neste contexto. A participação da Venezuela foi vetada e, segundo o El País (edição brasileira) de 15 de Abril, a reunião selou o fim da América bolivariana. O fortalecimento da influência dos EUA na região está bem patente no modo como foi criticada pela delegação norte-americana a crescente influência da China no continente. Por tudo isto, a guerra na Síria é parte de um jogo geopolítico bem mais amplo e de futuro muito incerto.

(*) Sociólogo, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Artigo publicado originalmente no Jornal de Letras, de Portugal.

Fonte do Artigo:

Tempo de caos (Boaventura de Sousa Santos)

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