O muro da República Dominicana
Elaine Tavares
O governo da República Dominicana anunciou esta semana que vai expropriar vários terrenos localizados na fronteira com o Haiti – os dois países dividem uma mesma ilha no Caribe – para garantir o espaço de construção de um muro de separação. A intenção, segundo o presidente Luis Abinader, é, com isso, frear a crescente imigração e o contrabando. A proposta é expropriar 30 metros nas zonas povoadas e 200 metros nas zonas desabitadas. O tema está gerando polêmica no país, mas não é pelo muro em si e sim pelas contendas envolvendo indenização.
A obra foi inaugurada simbolicamente no mês de fevereiro e pretende cobrir 160 quilômetros de extensão, aproximadamente a metade do tamanho da fronteira que é de 391.6 quilômetros. A primeira etapa do muro terá 54 quilômetros, com o uso de alta tecnologia, e custará aos dominicanos perto de 30 milhões de dólares. A obra toda passará dos 100 milhões. A proposta é de que seja feita uma base em cimento com uma cerca metálica de quatro metros de altura.
Apesar de dividirem o mesmo espaço geográfico os dois países tem as relações estremecidas desde há décadas. Ainda assim muitos haitianos acabam passando a fronteira buscando fugir do caos e da violência desatada no país desde o golpe de 2004 que depôs Jean Bertrand Aristid e colocou as forças da ONU no comando. Segundo fontes do governo dominicano há mais de 500 mil haitianos no país, sendo que 200 mil são considerados “ilegais”.
O drama vivido pelos haitianos que buscam desesperadamente encontrar uma saída para uma vida melhor não encontra amparo nas autoridades, nem na maioria da população que compra o discurso de que os vizinhos vão lhes roubar os empregos e as oportunidades. Enquanto isso, os haitianos tentam passar a fronteira tendo ainda que se deparar com quadrilhas de tráfico de pessoas, de tráfico de órgãos e de prostituição, tudo isso acontecendo a partir de vistas grossas de agentes do Estado. Ao que parece, nada disso tem a menor importância para o governo da República Dominicana, que tudo o que quer é impedir a entrada dos migrantes.
A construção do muro e de todo um aparato de contenção e aprisionamento segue a lógica que já se conhece em outras regiões que tratam os imigrantes como um risco, bem como uma fonte de lucros. Ganham as empreiteiras, ganham as empresas de tecnologia da repressão, ganham as assessorias internacionais e ganham as empresas que constroem e mantêm campos de prisioneiros. Portanto, o país que constrói o muro gasta com esse processo muito mais do que a simples construção. É uma indústria. Gastassem esses recursos todos em programas de auxílio provavelmente teriam muito mais êxito na solidariedade e integração. Mas, no mundo capitalista, essas são palavras malditas. O que está em questão não é a vida humana, mas a quantidade de dinheiro que pode ser embolsada por alguns empresários e políticos.
É por isso que destruir países, fazer guerra, invadir nações, ainda é um dos melhores filões para o crescimento do patrimônio de pouquíssimos seres humanos no planeta. Quem conhece a história sabe: os muros não são capazes de conter as gentes em desespero. E é por essa razão que eles são erguidos. Para atrair aqueles que serão as vítimas no altar do capital. Moralmente é perverso, mas para os capitalistas é uma mina de ouro.
Sendo assim, a classe trabalhadora de todo o planeta deveria atuar em uníssono na construção de um mundo sem muros. Um mundo socialista. Discutir pontualmente o tema da migração é enxugar gelo. O ponto nevrálgico é a existência de um modo de produção que não pode prescindir destas vítimas. Este sistema é o que tem de vir ao chão.
Imagem em destaque: Orlando Barría EFE
Fuente de la Información: https://iberoamericasocial.com/o-muro-da-republica-dominicana/