Enchentes desalojaram uma a cada 20 pessoas no RS; 77.405 estão em abrigos
Matheus Alleoni e Hygino Vasconcellos
As enchentes no Rio Grande do Sul já desalojaram uma a cada 20 pessoas no estado, conforme dados da Defesa Civil estadual.
O que aconteceu
538.245 estão desalojadas no Rio Grande do Sul, segundo último balanço da Defesa Civil. Número corresponde a aproximadamente 5% da população do estado, que é de 10.882.965 conforme o último Censo do IBGE.
Os desalojados não necessariamente perderam suas casas, diferentemente dos desabrigados. O grupo é composto por pessoas que saíram de suas casas e, em muitos casos, estão na residência de parentes.
Número de desalojados deu salto e passou de 500 mil na noite de sábado (11). Antes, o total de pessoas nessas situações era de 339.925.
Quase 80 mil pessoas estão em abrigos. Em um deles, em Novo Hamburgo, uma grávida deu à luz. Já em outro, um filhote de porco está vivendo entre as pessoas.
No domingo (12), prefeitos pediram para moradores de áreas atingidas não retornassem para casa. O prefeito de Canoas (RS), Jairo Jorge (PSD) explicou que chuvas intensas podem provocar uma elevação de 5,5 metros no nível dos rios. O alerta também foi dado em outras regiões, como o Vale do Taquari. O prefeito Jonas Calvi (PSDB), de Encantado, disse que «há muita água para chegar». Já o prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP), ressalta que os moradores devem se manter nos abrigos.
Dos 497 municípios do RS, 450 foram afetados pelas enchentes causadas pelas fortes chuvas, conforme o último boletim.
Algumas cidades foram completamente alagadas. Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, foi tomada pela água e virou um «cemitério de carros». O município tem cerca de 40 mil habitantes. Na terça-feira passada (7), quando começou a evacuação da cidade, municípios das redondezas ofereceram abrigo. Em Eldorado do Sul, mãe e filha conseguiram sair de uma região alagada após escreverem um pedido de socorro em batom.
Cidades planejam mudar de lugar. Os prefeitos de Muçum e Roca Sales, no Vale do Taquari, entendem que não adianta reconstruir prédios públicos e partes dos bairros residenciais no mesmo lugar de antes, como mostrou a Folha de S.Paulo. Em Roca Sales, 50% da cidade deve ser reconstruída em outro lugar, enquanto em Muçum são ao menos 30% das áreas.
Em Roca Sales, quatro integrantes de uma mesma família foram encontrados abraçados sob a terra. A casa em que estavam foi atingida por um deslizamento e ficou completamente soterrada. Um parente disse que eles eram «muito unidos».
Reconstrução das áreas afetadas deve levar pelo menos um ano. O alerta é da Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV).
Famílias buscaram refúgio no litoral do Rio Grande do Sul. Além dos alagamentos, moradores da região metropolitana de Porto Alegre passaram a enfrentar falta de água e luz. Muitos decidiram «migrar» para o litoral, que não foi tão atingido.
Número de mortos já supera total de óbitos por desastres de 1991 a 2022. No período, foram registrados 101 mortos. Agora, em menos de um mês, as chuvas já causaram 147 óbitos, segundo o boletim divulgado pela Defesa Civil às 18h desta segunda-feira (13).
Nível do Guaíba volta a subir. A elevação foi de 41 centímetros entre sábado (11) e a tarde desta segunda-feira (13). Às 15h15 de segunda-feira, o Guaíba marcava 5,01 metros. Projeção da Defesa Civil é de que água ultrapasse os 5,5 metros.
Resgates de laço, colchão inflável, barco e helicóptero
Muitos resgates de moradores ocorrem de barco. Porém, helicópteros também passaram a ser empregados – conforme o governo estadual são mais de 40 em uso atualmente. Antes, a retirada da população ocorria no improviso com o uso até de carrinho de mão, como ocorreu em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha.
Amigos usam colchão inflável para resgatar 20 pessoas. Os amigos Maick Soares Moreira, 26, e Michel Chamberlain Ponciano, 36, fizeram os resgates na Ocupação Cobal, no Quarto Distrito, zona norte de Porto Alegre. Eles contam que não dormiram por causa dos salvamentos. «Quando a água chegou no peito, lembrei do colchão que estava guardado e a gente começou a usá-lo», conta Maick.
Cachorro foi resgatado após ser laçado. O animal estava em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, e foi retirado da água por um policial militar. Segundo a Brigada Militar, o resgate aconteceu no último sábado (11). Em outro caso, um cachorro continua «nadando» no ar mesmo após ser retirado da água.