Boaventura de Sousa Santos. «O vírus é caótico mas não é democrático»

O mais influente sociólogo português no mundo acabou de publicar um novo livro, «O Futuro Começa Agora, da Pandemia à Utopia». Nesta obra defende que o vírus traz uma mensagem. E que é preciso aprender com as mortes que provoca, para que elas não se repitam.

Diz que foi o livro mais rápido que escreveu.

Foi o livro mais rápido que escrevi, porque foi escrito durante a pandemia para tentar responder às perplexidades que o vírus está a causar em mim e a muita gente. Pela surpresa como a pandemia surgiu e se difundiu. E surpresa também por todo o desconhecimento que havia, nomeadamente dos países mais desenvolvidos que, supostamente, têm mais capacidade científica. Verificou-se que eram os que estavam menos preparados para responder à pandemia. Ficamos na posição dos indígenas do século XVI das Américas.

Quando chegaram os portugueses e os espanhóis eram portadores do vírus da varíola, para qual os indígenas não eram imunes. A nossa diferença é que temos capacidade para tomar outras medidas, não houve essa «guerra biológica», e agora vamos ter vacinas. Mas a verdade é que o país mais desenvolvido do mundo, os Estados Unidos da América, habituado a invadir países, quando foi invadido pelo vírus não produzia as coisas mais elementares que eram máscaras, luvas e outras, como ventiladores.

Escreve a certa altura no livro, que concorda com o historiador Hobsbawm, no sentido que os séculos não começam historicamente no seu primeiro ano e acabam no centésimo, mas começam num acontecimento que abre uma era, e terminam num que a muda. No seu entender, o século XXI não começou com a crise financeira, mas com o aparecimento do coronavírus?

 

A covid-19 muda completamente as nossas formas de relacionamento e de relações sociais, muito mais do que podemos imaginar agora. Por enquanto, estamos na fase aguda da pandemia, numa altura em que só se pensa em resolver a emergência sanitária e conseguir as vacinas. Mas sabemos que o modelo de desenvolvimento que temos atualmente, que é extremamente agressivo para a natureza, destabiliza os habitats dos animais selvagens com a desflorestação da Amazónia, a contaminação dos rios, a ampliação da fronteira agrícola. Ao destabilizar esses habitats, muitos dos vírus que circulam entre os animais selvagens, sem problema nenhum, passam para os humanos que não estão imunes. O que significa que vamos entrar numa época de pandemia intermitente.

Não negligencio a importância que teve a crise financeira, há outros que mencionam, também, o derrube das Torres Gémeas, em 2001, como o princípio do século. Foram momentos importantes, mas não tiveram este impacto, dado que a pandemia atingiu rapidamente todo o mundo, colocando a humanidade no mesmo barco no que diz respeito à infeção. Embora neste navio, aqueles que vão nas cabines superiores, da classe média alta para cima, estão em melhores condições de sobreviver. O vírus é caótico, mas não é democrático. Basta ver as taxas de letalidade, nos EUA e no Brasil, em que negros e pobres são a grande percentagem das vítimas mortais da covid-19. No livro, eu comparo dois bairros da região de São Paulo, o Morumbi, de classe média alta, e o Campo Limpo, uma favela em que vive o Guilherme Bolos. Nesse dois locais a taxa de mortalidade varia entre 2% na localidade mais rica e 60% na mais pobre. Não há comparação possível.

No livro usa a metáfora de que o vírus tem uma inteligência e uma mensagem, que não só nós precisamos de traduzir, mas que até expressa uma pedagogia que temos de perceber.

Acho que ele nos está a ensinar qualquer coisa. É uma pedagogia cruel, como escrevo, ensina, matando. Mas está a dar uma lição que é uma mensagem da natureza, a dizer que se continuarmos com este modelo de desenvolvimento temos de nos preparar para mais pandemias. A vida humana do planeta é 0,01% da vida total da Terra. No entanto, desde, pelo menos, o século XIX, as alterações climáticas e outras mais graves são causadas pela ação humana. Não é a mesma coisa do que os meteoritos que destruíram os dinossauros. Se continuamos com este padrão de consumo, a vida humana está cada vez mais precária e difícil. Como digo na segunda parte do livro, o meu computador poderia durar dez anos, o meu telemóvel podia aguentar o mesmo tempo, o meu relógio poderia durar toda a vida, como duravam antes, mas nós estamos na época da obsolescência programada para maximizar o consumo e garantir os lucros dos super-ricos.

 

O vírus está-nos a ensinar que este modelo é extraordinariamente desequilibrado e põe em causa a nossa sobrevivência. No planeta, vivemos numa faixa relativamente pequena, na qual é possível vida humana. Não estou a falar dos esquimós do Polo Norte, mas das populações que estão em zonas que oscilam entre os 20 negativos, com condições, e os 40 a 45 graus positivos. O que está a acontecer é que esta franja está a diminuir em termos de habitabilidade. Há cada vez mais zonas muito frias e zonas muito mais quentes. O aquecimento global é desigual e cria desequilíbrios. A covid-19 emite um sinal de que não só vamos viver com pandemias intermitentes, como também que teremos, se continuarmos neste caminho, vagas crescentes de refugiados ambientais. É por isso que acho que é errada a metáfora inicial de que estamos numa guerra e que o vírus é o inimigo. Precisamos de vírus e bactérias para viver. O nosso inimigo é as condições em que vivemos que fazem com que estes fenómenos se tornem cada vez mais graves.

Critica o filósofo italiano Agamben pela utilização da ideia da generalização do Estado de exceção, e o filósofo esloveno Žižek pela ideia que o vírus “força” a uma passagem para formas de sociedade mais comunistas. Mas, ao mesmo tempo que critica, vai dizendo que a pandemia facilita uma pulsão autoritária e que para resolvermos esta situação temos de conseguir ter outro paradigma civilizacional.

O meu debate com Agamben tem um aspecto que não se fala muito. Se ler Pasolini, como eu li, nele já existe grande parte daquilo que diz Agamben. Ele aliás foi até actor de Pasolini, na sua juventude. A sua ideia de Estado de excepção não está desligada do facto de quando Pasolini morre ter 33 processos contra ele. A Itália daquele momento tinha, de facto, um comportamento de um Estado de exceção permanente. Mas eu, nesta pandemia, quis distinguir o comportamento do Estado português, por exemplo, e dos estados húngaro, do Azerbeijão e da Índia. Aí os governantes usaram a pandemia para aumentar, sem limites, os seus poderes. Houve estados, como o caso do Brasil, que promoveram um genocídio por ausência de políticas sanitárias.

No caso de Zizek, a minha divergência está em que eu acho que precisamos de um novo paradigma, mas não creio que seja o comunista. Sou um homem das epistemologias do sul, regiões em que a palavra comunismo não significa nada, ou pode confundir-se com o comunalismo de Narendra Modi, que ainda é pior, ou a vida comunal dos povos indígenas. Comunismo foi a solução encontrada na Europa, que temos que analisar, e que não a podemos colocar ao nível do nazismo, como faz a extrema-direita, mas que teve os seus problemas e que necessita de ser reinventado. Eu continuo a ser um socialista, mas um socialista intercultural, que tem de saber lidar com pessoas que não se declaram socialistas, mas que têm os mesmos objectivos do que eu.

Faz algum sentido falar que há um Norte ou um Sul global, quando hoje parece que o capitalismo está em todo o lado? Antigamente líamos o Corto Maltese e havia sempre uma ilha escondida em que tudo podia ser diferente, onde se podia reinventar o mundo longe do resto. Hoje isso é possível?

 

Nos meus últimos trabalhos eu distingo três formas de emergência e de soluções alternativas num tempo de transição: uma são as zonas libertadas; outra são as apropriações contra-hegemónicas, isto é começar a lutar pelos direitos humanos a sério, mas não da forma oficial que é uma espécie de política de hegemonia dominante; e a outra ir buscar às raízes, ruínas e sementes, que é o caso de algumas ideias indígenas que não estão nas Constituições da Bolívia e do Equador. São algumas formas de pensar o futuro. Há um Norte, aquele que comanda a globalização, e as três dominações que eu distingo: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado. As últimas duas, embora com relativa autonomia, estão ao serviço da primeira – o capitalismo. Vê-se que na área da tecnologia dominam cinco empresas que estão nos EUA. No sector financeiro, há 25 empresas que dominam, sobretudo norte-americanas, com algumas europeias. Este Norte e Sul não é definido apenas geograficamente, mas nas relações de poder no sistema mundial.

O Norte e o Sul não está em todo o lado? Quando estamos nas cidades dos EUA invadidas por sem-abrigos, não estamos numa espécie de Sul que está no Norte? E quando estamos no Dubai, no meio dessa espécie de Disneylandia do consumo, não estamos num Norte que está no Sul?

Concordo inteiramente consigo. Digo aliás que há um Sul dentro do Norte e um Norte dentro do Sul. Em determinadas zonas de São Paulo quando se está num restaurante de luxo, estamos no Norte, mas andamos meia dúzia de passos e, de facto, estamos no Sul. Mas isso não se esgota aqui, a relação entre um Norte global e um Sul global mostra a existência de centros de poder e de relações de poder. Basta ver o que se está a passar com a chantagem que está a ser feita com as vacinas. Temos uma política de vacinas que é totalmente imperialista, o que levou António Guterres a dizer que as vacinas deviam ser um bem público mundial. Há países que estão a guardar vacinas, o que é totalmente irracional.

Se o mundo não for todo o vacinado, não interessa nada que o Norte esteja completamente vacinado, porque os executivos do Norte vão a Maputo, ou outro lugar qualquer do Sul, e podem apanhar uma nova variante do vírus para o qual não há ainda vacina. Há Norte e Sul, como há esquerda e direita. Mas temos que os redefinir, tanto epistemicamente como do ponto de vista sociológico. Não é de maneira nenhuma um determinismo geográfico, senão não entendíamos a Rússia, a China e a Coreia do Sul, nem a miséria que existe nos EUA.

Depois da pandemia pode haver uma mudança positiva de sociedade, ou é possível um cenário em que as sociedades tornam-se mais autoritárias e piores?

Sou um sociólogo crítico e luto por uma sociedade melhor. Sou objetivo mas não neutro. No meu livro coloco três cenários. O negacionismo, o não se fazer nada. Se isso acontecer vai chegar-se a esta situação que coloca de os estados tornarem-se mais repressivos, e as democracias podem não subsistir. Esta é a possibilidade que é mais provável neste momento. Depois há aquela solução a que eu chamo o gato pardo, alguma coisa muda para que tudo fique na mesma. É o que vemos com Biden e a UE, que dizem que vão fortalecer os sistemas de saúde, vão voltar ao acordo ambiental de Paris, querem fazer a transição energética e digital. Pretendem fazer alguma coisa, mas muito timidamente. A Europa nem sequer conseguiu negociar as vacinas com as multinacionais farmacêuticas. Este é o paradigma do capitalismo mais inteligente.

Se ler os editoriais do Financial Times desde abril do ano passado, lê que é preciso haver um novo «contrato social» entre outras coisas, mas é evidente que não lhes passa pela cabeça alterar o capitalismo financeiro, nem sequer perdoar as dívidas contraídas pelos países mais pobres durante a pandemia. No meu entender, essa via não vai resolver o essencial. O terceiro cenário é a minha utopia, é o que penso que devíamos fazer. No último capítulo falo de como se pode fazer a transição. Se vamos viver numa pandemia intermitente, temos de mudar muita coisa em termos do paradigma social em que vivemos.

Fuente: https://www.wort.lu/pt/sociedade/boaventura-de-sousa-santos-o-v-rus-e-ca-tico-mas-n-o-e-democr-tico-606ea4e6de135b9236bb5c0b

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Alemania: experto rechaza propuesta de vacunar antes a los maestros

El presidente de la Comisión Permanente de Vacunación (Stiko) de Alemania, Thomas Mertens, no ve ninguna razón para dar preferencia a los maestros en el proceso de vacunación contra el coronavirus actualmente en curso, según declaraciones que publica hoy el diario «Rheinische Post».

Tras la última reunión entre el Gobierno de la canciller Angela Merkel y los primeros ministros de los estados federados, se pidió al Ministerio de Sanidad que estudiara la posibilidad de dar prioridad a los profesores de educación primaria e infantil en la vacunación.

«La Stiko basó su recomendación en el análisis de datos internacionales y también en los datos de los informes de Alemania. En base a ellos, no hay necesidad de priorizar a los maestros desviándose de la recomendación», dijo Mertens.

Argumentó asimismo que los maestros que tuvieran una edad dentro de los supuestos de priorización y los que tienen condiciones especiales por patologías preexistentes ya serían priorizados por esos motivos y no por ser maestros.

«Sin embargo, las recomendaciones de Stiko son eso, recomendaciones, y los responsables de tomar decisiones en la política pueden desviarse de ellas. Sin embargo, la justificación de un cambio de criterio debe provenir también de estos responsables políticos», explicó Mertens.

Fuente: https://www.clarin.com/agencias/dpa-alemania-experto-rechaza-propuesta-vacunar-maestros_0_BaPZvmc79.html

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El “Chronos” y la Pandemia

Por: Alberto Croce

Como siempre hice, quiero compartir con ustedes, mis amigxs, algunas perspectivas que vamos pensando en el proceso de estos días diferentes y a la vez tan fuertes, que estamos viviendo todxs.

La inmensa mayoría, dentro de las propias casas. Casas tan diferentes como historias y realidades se viven en cada una de ellas. Casas con comodidades y casas atiborradas, casas que protegen y casas que amenazan, casas cálidas y casas que hielan los huesos… Y “no casas”.

Otro grupo de personas, más pequeño en número,  saliendo a cubrir tareas indispensables y valiosas para el resto, muchxs exponiéndose a riesgos que son desconocidos en su magnitud y extensión.

De pronto es como que estamos viviendo en realidades o dimensiones paralelas.

En mi casa: silencio, re-encuentro conmigo mismo, con tiempos de paz y también de angustia, de serenidad y de miedo… de conexión espiritual y de despojo… situación que se repite cuando me asomo a la ventana…

Por otro lado, al prender la televisión o la radio, aparece el mundo atrapado por el coronavirus. Cada canal es un torrente de información sobre el avance de la pandemia, lxs muertos, los médicos que no saben cómo frenar esto, las predicciones calamitosas, el crash económico global…

Y el tercer plano que a mí se me presenta es el de las redes sociales. Allí aparece otro mundo. Un mundo militante, de amigxs, familiares, compañerxs… que comparten allí sus sentimientos, alegrías, temores, perspectivas conspirativas, dimensiones espirituales y religiosas, recetas saludables, mensajes de todo tipo y reuniones virtuales de las más diversas…

Les confieso que me resulta difícil articular esos tres planos dentro de mi propio “cronos”. Por momento me cuesta reconocer cuál de ellos es el real de veras… Porque ninguno de ellos lo es del todo y ninguno es completamente falso.

Cada uno de esos planos tiene, a su vez, una dinámica interior diferente, un ritmo propio, que no se ajusta con los otros dos. Eso hace que por momentos no sepa ni qué hora es, ni qué día es, ni qué es lo próximo que debería o convendría hacer…

Al mismo tiempo, tengo la sensación de que, desde una mirada un poco más amplia y menos personal, estamos pasando a otra etapa de este proceso que vivimos.

A la primera la llamaría “la emergencia”.  De pronto, y muy rápido, hubo una toma de conciencia en los diferentes países de que estábamos ante una situación desconocida y peligrosa y que había que actuar rápidamente para que el daño que se venía fuera el menor posible, aún sabiendo que iban a ser inevitables dolores significativos.  Asumir esta etapa no fue sincrónica en todos los países. Algunos reaccionaron más rápidamente, otros con más recursos, otros con mejores decisiones. Pero, pasados algunos días de aceleración de los procesos, el planeta entero fue llamándonos a quedarnos en nuestras casas, no complicar el trabajo de los cuerpos de salud, y organizar la reacción a la pandemia con diferentes estrategias de políticas sanitarias.  Hoy, con “toques de queda”, aislamientos obligatorios, policías y ejércitos en las calles…

A este “momento” llegamos, más o menos, casi todos los habitantes del planeta en pocas semanas.

Pero resulta que parecería que estamos introduciéndonos en una nueva etapa del proceso. Ya no la de la “emergencia” sino algo que puede prolongarse en el tiempo y que requiere de ajustar muchas de las decisiones que se han ido tomando.

La llamaré por el momento, la etapa de “crisis sostenida”.  Personalmente tengo la sensación de que, con mucha suerte, al menos en Argentina, no será posible interrumpir esta cuarentena antes de mediados o fines del próximo mayo. Con lo cual, deberíamos prepararnos, al menos, para dos meses para vivir en una situación de aislamiento preventivo más o menos parecida a la que hoy vivimos.  La diferencia es que ya no alcanzarán las decisiones que se tomaron “para la emergencia”, y habrá que tomar otras bastante más estructurales… En distintos campos, áreas y situaciones. Las respuestas a la etapa de “emergencia” resultarán muy insuficientes para esta nueva etapa. Etapa que es tan desconocida o más que la evolución de este virus que nos tiene jaqueados a todxs.

Creo que cada unx de nosotrxs debería pensar con la mayor calma posible, en medio de las tensiones que estamos viviendo, en qué estrategias deberíamos asumir para esta nueva etapa del proceso. Y considerarlo para los diferentes aspectos de la vida de cada unx de nosotrxs. Pienso como aspectos a nuestras familias, nuestra salud, nuestro trabajo, nuestros amigos, nuestra comunidad de referencia, nuestros proyectos personales, nuestros sueños…

Cada uno de nosotros deberíamos reflexionar -y sentir- acerca de qué sería necesario hacer para prepararnos para esta nueva etapa.

En particular quienes tienen responsabilidades políticas y sociales, deben pensarlo con mucha atención. No es lo mismo, por ejemplo, reaccionar a la emergencia educativa para una suspensión de 15 días de clases presenciales… que enfrentarse incluso a un período mucho más extenso en donde estas clases estén interrumpidas por un largo plazo. Todo se hace muy diferente y nos exige de una manera inimaginable respuestas para las que nunca nos habíamos preparado.

Por otra parte, en esta nueva etapa del proceso, si bien la salud sigue siendo el valor fundamental que está en juego, todxs somos más o menos conscientes de que lo que está crujiendo es el mismo sistema económico y social tal como lo conocemos. Y creo que ningunx -NINGUNX- tiene total conocimiento de qué es lo que tenemos por delante al respecto.

Nuestro mejor horizonte es mirar lo que empieza a suceder en esa ciudad en donde comenzó todo este drama, Wuhan, deseando que ese sea el futuro que se nos presente a todos los países. Tenemos cierta memoria histórica de otros episodios similares en donde pestes y epidemias terminaron “pasando” luego de dejarnos las huellas dolorosas de miles de fallecidos. Pero… pasaron.

También deseamos con fruición que los científicos encuentren vacuna o tratamiento para poder enfrentar este virus invisible a los ojos pero que, esencialmente, nos ahoga y nos deja sin aire.

Sea como fuere, mi intención al compartir estas líneas es llamarnos a reflexionar y prepararnos para esta nueva etapa que tenemos por delante y a la que estamos entrando. Curiosamente, no la podemos pensar solos, pero no podemos juntarnos para pensarla. No saldremos aislados, pero tenemos que organizarnos usando herramientas virtuales, que afortunadamente tenemos disponibles.

Por último, mucha gente, en todo el mundo, está sintiendo muy fuertemente que ya nada podrá volver a ser igual que antes… no sé cuánto hay de constatación o cuánto de deseo en esta afirmación. Sea como sea, algo le está diciendo a la conciencia universal que nos estábamos confundiendo demasiado de camino y que estábamos yendo en una dirección totalmente equivocada.

Me siento demasiado pequeño para poder visualizar esa perspectiva con algo de claridad. La capacidad del capitalismo y del poder de recrearse, reorganizarse y reatacar… es sumamente fuerte.

Pero este virus que nos deja sin aire y nos mata sin sentido, y quizás es solo el anticipo de una atmósfera contaminada y un egoísmo global, al que miles de militantes de todo el mundo y de todas las causas están diciéndonos, gritándonos, clamando… que debemos cambiar sin demoras.

Hoy me pregunto, más que nunca, ¿Será que Otro Mundo es Posible?

Fuente e Imagen: https://albertocesarcroce.wordpress.com/2020/03/28/el-chronos-y-la-pandemia/

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¿Vigilar y castigar a los mismos siempre? Seguridad, salud pública y derechos humanos en la pandemia

América/Argentina/25/03/2020/Autor: Salta12/Fuente: pagina12.com.ar

Referentes de derechos humanos, abogados, intelectuales y políticos rechazaron la mirada militarista del gobernador salteño. La tensión entre cuarentena, seguridad y respeto por los derechos humanos.

En un Día de la Memoria por la Verdad y la Justicia marcado por la cuarentena y la suspensión de todo acto público y teñido de pedidos para que vuelvan los militares a ocupar las calles, Salta/12 indagó sobre la tensión que atraviesa el país y la provincia entre la extrema necesidad de mantener el aislamiento social por la pandemia del Covid-19 y el injustificado uso de la fuerza vulnerando los derechos de los sectores históricamente más postergados.

Para el filósofo y docente de la Universidad Nacional de SaltaHernán Ulm, “Hay una línea muy finita que separa las políticas sanitarias de las biopolíticas contemporáneas de las que hablaba Foucault y que ponen en riesgo los derechos civiles que además están consagrados en la Constitución”.

El intelectual explicó que “hay que tener cuidado con la logia del pánico, que se esconde detrás de la lógica higienista sanitaria con la cual nos están bombardeando los medios”. Y agregó que “los gobiernos están utilizando esta especie de estado de excepción no puntualmente declarado para eventualmente avasallar las garantías constitucionales, eso se ve muy en claro en el accionar cotidiano”.

Con respecto al pedido del gobernador Gustavo Sáenz de que el gobierno nacional ponga al Ejército en el control de las calles, el docente declaró: “Creo que hacer ese pedido un día antes del 24 de marzo es por lo menos sintomático”.

Y volvió sobre lo que para él es lo más preocupante: “el discurso del pánico, que nos convierte a todos en vigilantes y denunciantes los unos de los otros”. Aseguró que allí es donde “ya no hace falta que estén las fuerzas de seguridad, todos nos empezamos a ver como gendarmería”,

Por lo que para el pensador es el discurso bélico el que está por detrás del discurso sanitarista, “estamos en guerra, hay enemigos invisibles, y esos discursos son muy peligrosos porque se produce la ruptura de los vínculos más elementales de la sociedad”.

Pero además explicó que lo que sucede en las calles con las detenciones por parte de la Policía tiene que ver con un “civismo selectivo, basado en un modelo clasista que ya conocemos”.

Para el abogado especialista en derechos humanos Rodrigo Solá, el manejo entre la seguridad y los derechos humanos es muy difícil “porque hay varios derechos en juego, por un lado la libertad y por otro la salud pública”.

Solá sostuvo que en el estado democrático hay herramientas para “hacer conciliar el ejercicio de los dos derechos sin necesidad de llegar a un estado de sitio”.

“Cada vez que se sucede algún tipo de crisis, sea económica, sanitaria, de migraciones, los que afloran son estos movimientos de derecha que tratan de avanzar contra las libertades individuales”, dijo quien el año pasado ganó uno de los concursos para integrar el hasta aquí todavía no puesto a funcionar Comité Provincial para la Prevención de la Tortura.

El abogado admitió que le parecen justificables las restricciones “excepcionales y temporarias para limitar la circulación ante semejante pandemia”, pero no acuerda con el llamado a las Fuerzas Armadas. En ese sentido consideró «exagerado» el pedido del gobernador para que los militares tomen las calles y dirigido hacia un sector de la población al que «lo único que le da tranquilidad son esas reacciones de seguridad. Sí podrían hacerlo en pasos fronterizos difíciles de controlar, pero no en las calles”.

No hay estado de sitio

La abogada querellante en causas de lesa humanidad, María José Castillosostuvo que en realidad, más que controlar el cumplimiento del aislamiento social, la Policía está haciendo un uso de la fuerza desmedido “pero esta vez con un pretexto”, sobre todo en los barrios más populares y marginales, con quienes la Policía “siempre se encarniza”.

“Es grave lo que está sucediendo porque son todas detenciones arbitrarias y excesivas violando todas las garantías”, y recordó que no se declaró un estado de sitio y “las garantías constitucionales siguen existiendo”.

La abogada añadió que la economía informal es la que más está sufriendo porque “es muy difícil comprobar el vínculo laboral en los casos eximidos por el decreto, como la venta ambulante de comestibles y verduras, por ejemplo”.

Indicó que le han llegado denuncias de persecución a gente que va a buscar su ración de comida a los merenderos y comedores. En algunos casos, hay cientos de personas detenidas en un solo lugar o en un mismo barrio.

Castillo expresó que se debe sostener el aislamiento “pero no permitir los abusos de autoridad, porque no detienen a la clase mediasino que hacen razias en las barriadas en donde la situación de aislamiento no es la misma”. En su opinión, hay que activar los mecanismos de denuncia, “Derechos Humanos de Nación ya lanzó un número y Salta debería hacerlo también”.

El ex diputado provincial y abogado Guillermo Martinelli reconoció que las fuerzas de seguridad “tienen que tener un grado de energía suficiente como para que la gente cumpla con lo dispuesto, que será lo único que nos pueda proteger”, y sostuvo que muchas veces “los jóvenes se sienten inmunes a todo riesgo”.

Sin embargo, criticó la manera de actuar contra ciertos sectores de la sociedad, “allí se manifiesta un prejuicio y el control debe ser para todos”, sostuvo.

Con respecto al discurso de Gustavo SáenzMartinelli consideró que el gobernador “tiene una tendencia hacia las Fuerzas Armadas, no creo que sean imprescindibles en estos casos, cada uno tiene su rol, Gendarmería para el control de fronteras y la Policía en las calles”.

Y agregó que el estado de sitio no solucionaría nada, “hay gente que no sabe lo que significa porque no lo ha vivido, y no ayudaría en nada”. El ex legislador aseguró que “en lugar de hacernos cumplir nuestras obligaciones, nos darían un castigo que puede generar más problemas sanitarios juntando a la gente en una alcaldía o en un calabozo”.

Repudio

La referenta de HIJOS en SaltaMariana Gamboa, repudió los dichos del gobernador. “No me extraña de una persona que tiene un nivel de posicionamiento ideológico claro de entender que puede poner como su mano derecha en seguridad a un negacionista como (el militar Juan Manuel) Pulleiro”.

Con respecto al accionar de la Policía, Gamboa sostuvo que no es lo mismo vivir en las zonas más urbanas y del centro que en las periferias, y mucho menos en las zonas rurales. “Este no es un estado de excepción, no están suspendidas las garantías de los ciudadanos, sino que tiene que ver con la salud colectiva”, enfatizó.

En ese sentido, añadió que “es muy difícil hacer una cuarentena en una vivienda de nailon o en una pieza sin condiciones materiales básicas, por lo que estar en el merendero o en una canchita es una posibilidad al menos más llevadera y se tiene que tener en cuenta”. Aseguró que hace falta más trabajo para controlar las condiciones en esas situaciones en lugar de perseguir a estas personas: “No es con represión, sino con conciencia y comunicación que se cambia la cosa”.

De manera similar se expresó Cristina Cobos, integrante de la organización de derechos humanos Lucrecia Barquet, quien rechazó los dichos del gobernador y se manifestó totalmente en desacuerdo.

“El Ejército no tiene esas funciones y espero que el Gobierno Nacional no autorice al Ejército a salir a las calles”, dijo Cobos, “en todo caso debería pedir refuerzos de Gendarmería para la frontera. Me parece un despropósito, menos a un día de recordar un aniversario más de la atroz dictadura cívico militar”, concluyó.

Cobos es otra de las ganadoras del concurso para integrar el Comité Provincial para la Prevención de la Tortura. El concurso se realizó durante los últimos meses de la gestión de Juan Manuel Urtubey pero aún hoy el Comité sigue sin funcionar. El argumento oficial del actual gobierno fue “la falta de presupuesto”.

Fuente e imagen: https://www.pagina12.com.ar/254958-seguridad-salud-publica-y-derechos-humanos-en-la-pandemia

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“Los dichos del ministro infringen la ley del SIDA”: Las críticas a Santelices por atribuir el aumento del VIH a la población migrante

Redacción: El Desconcierto

Para el abogado experto en materias legales sobre VIH/SIDA, Esteban Arévalo, estas declaraciones «son inaceptables por un ministro que actúa como representante del Estado chileno, infringiendo la norma expresa de la ley y también normas de nivel constitucional, como la igualdad ante la ley».

Durante hoy jueves, el Instituto de Salud Pública (ISP) confirmó 6.430 casos nuevos de personas contagiadas con VIH entre el 1 de enero y el 30 de noviembre de 2018, una cifra récord en la historia del país.

La mitad de los pacientes, equivalente a más de 3 mil personas, fueron diagnosticados en la Región Metropolitana, seguido por Valparaíso (521), Biobío (396) y Antofagasta (298). Los casos detectados ya están confirmados a través del Test de Elisa, no sólo por el test rápido.

Desde el Ministerio de Salud precisaron que el 95% de los casos ratificados en nuestro país se encuentran con tratamiento y que el 90% está con cargas virales negativas, es decir, con el virus indetectable.

Al respecto, el ministro de Salud, Emilio Santelices, atribuyó el aumento de los casos de VIH a pacientes extranjeros, argumentando un cambio en el perfil epidemiológico, a pesar de que según las cifras entregadas por la cartera de salud, las personas migrantes solo equivalen a un tercio de la población detectada y en tratamiento durante el año pasado.

En este escenario, diversos actores sociales comentaron que los dichos del ministro Santelices son discriminatorios. Esto, tomando en cuenta la ley 19.779, más conocida como “Ley del SIDA” señala en su artículo 1º que: “la prevención, diagnóstico y control de la infección provocada por el virus de inmunodeficiencia humana (VIH) como la asistencia y el libre e igualitario ejercicio de sus derechos por parte de las personas portadoras y enfermas, sin discriminaciones de ninguna índole, constituyen un objetivo sanitario, cultural, social y de interés nacional y corresponde al Estado la elaboración de las políticas que propendan hacia dichos objetivos, procurando impedir y controlar la extensión de esta pandemia, así como disminuir su impacto psicológico, económico y social en la población”.

Para el abogado experto en materias legales sobre VIH/SIDA, Esteban Arévalo, estas declaraciones “son inaceptables por un ministro que actúa como representante del Estado chileno, infringiendo la norma expresa de la ley y también normas de nivel constitucional, como la igualdad ante la ley. Infringe tratados internacionales que han sido ratificados por Chile y que forman parte de nuestro ordenamiento jurídico en cuanto a la no discriminación y a la protección de los derechos de las personas migrantes”.

Respecto al factor discriminatorio de los dichos del ministro, agrega que “está fomentando la estigmatización de un grupo que de por sí ya es vulnerable. Si a eso le sumamos la condición de vulnerabilidad de vivir con VIH,  el ministro ha infringido la norma que obliga a que el Estado no discrimine en las políticas de VIH/SIDA”

Para el activista Víctor Hugo Robles, los dichos del ministro también son errados: “Lo que no dice ahí es que aquella población migrante está diagnosticada y tratada, o sea, ellos no son el problema. El problema sigue estando en los que no son diagnosticados, en los que no son tratados y a esa población en donde el Ministerio de Salud no ha podido llegar. Tratar de atribuirle la crisis del VIH a la población migrante es un error inaceptable en cualquier parte del mundo”.

Según cifras del Ministerio de Salud, entre 2010 y 2017 hubo 32.677 notificados entre el sistema privado y público, en el cual se encontraron a 21.284 personas contagiadas, de las cuales, sólo 1.866 fueron extranjeros (equivalente a un 8,76% del total de los casos). También, según otras cifras del ministerio es que en el año 2015, había un total de 24.039 personas en control del programa VIH/SIDA en el sistema público de salud. De estas, 606 eran extranjeros: representaban solo un 2,5% del total.

En 2016, existió una leve alza, en donde el total de personas correspondió a 26.213, y las extranjeras a un 4,1%. A su vez, en regiones como la III, IV, VI, VII, VIII, IX y XII no existía ninguna persona extranjera contagiada hasta la fecha.

Fuente: http://www.eldesconcierto.cl/2019/02/14/los-dichos-del-ministro-infringen-la-ley-del-sida-las-criticas-a-santelices-por-atribuir-el-aumento-del-vih-a-la-poblacion-migrante/

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