Por: Educação.
Autor de mais de 50 livros, Daniel Munduruku escreve para crianças e jovens como forma de orientá-los sobre a cultura de seu povo e dos demais
O Brasil ainda possui grandes barreiras em relação à valorização e reconhecimento de suas raízes indígenas. A História contada é voltada para o olhar europeu e no dia a dia não faltam estereótipos sobre os povos indígenas.
É costume um professor, antropólogo e jornalista, por exemplo, falarem sobre determinada etnia, e raramente, o indígena tem a oportunidade de espalhar a visão dele, a visão de seu povo sobre eles mesmos.
O indígena Daniel Munduruku – o segundo nome é a designação de seu povo étnico – nasceu em Belém, Pará, e vem se destacando por trazer esse outro olhar por meio de livros e em palestras em universidades no Brasil e mundo.
O Prêmio Fundação Bunge desse ano, na área de letras, com o tema literatura infantojuvenil foi para Daniel. Essa premiação existe desde 1955 e tem como objetivo reconhecer cidadãos que atuem em ações de desenvolvimento da cultura e ciências no país. Entre os já selecionados estão Jorge Amado e Hilda Hilst.
O indígena é autor de mais de 50 livros voltados à cultura e luta indígena. Formado em Filosofia, licenciatura em História e Psicologia, Daniel é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Entre os prêmios já recebidos estão o Jabuti e o Tolerância, esse último reconhecido pela Unesco.
“Luto para que a cultura indígena não seja considerada simplesmente parte do folclore nacional, mas que esteja viva no currículo escolar”, defende. Cerca de 12 milhões de seus livros circulam em escolas públicas e privadas do país e fazem parte de material didático para a educação básica.
Aplicar as leis 10.639, de 2003 e 11.645, de 2008, que exigem que as escolas incluam no currículo “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” ainda é desafio nas escolas.
“Embora haja muito avanço a partir da sanção da lei, os professores ainda não têm muita informação e quase sempre repetem o que aprenderam quando eram estudantes, pois são vítimas de um sistema que sempre excluiu os povos indígenas. Nosso objetivo é que a cultura indígena saia do aspecto comemorativo e tenha um viés mais pedagógico e a literatura indígena é uma ferramenta importante neste processo de construção da identidade brasileira”, afirma o premiado.
Sobre o prêmio
Os candidatos não se inscrevem, são indicados pelas principais universidades e entidades científicas e culturais brasileiras. A seleção final é feita por especialistas da área.
Vida e Obra é a categoria da área de Letras: Literatura Infantojuvenil a qual Munduruku venceu. A ganhadora na categoria Juventude, foi Nina Krivochein, de 14 anos, autora de quatro livros.
Na categoria Vida e Obra na área de Ciências Agrárias: serviços ambientais para o agronegócio, o físico Silvio Crestana foi o selecionado. O engenheiro agrônomo Pedro Henrique Brancalion, professor na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, foi o escolhido na categoria Ciências Agrárias Juventude.
Os selecionados pelo Vida e Obra vão receber, cada um, medalha de ouro e R$ 150 mil. Na categoria “Juventude”, o prêmio é R$60 mil e medalha de prata.
A cerimônia de entrega será em 13 de novembro, em São Paulo.
Fonte do comentário: http://www.revistaeducacao.com.br/escritorindigena/