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Com bom professor, alunos permanecem na escola

capaRésumen: Hablamos con los autores del libro Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?, los investigadores de FLACSO Brasil Miriam Abramovay y María García Castro, que publican el trabajo co-escrito por el sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, también la institución. El proyecto, iniciado en noviembre en asociación con la Organización de Estados Iberoamericanos (OEI) y el Ministerio de Educación (MEC) de Brasil, señala que una buena relación con los maestros ayuda a los estudiantes a permanecer en la escuela y puede influir en su elección de carrera. El estudio completo está disponible en la biblioteca virtual de la FLACSO.

Conversamos com as autoras do livro Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?, as pesquisadoras da Flacso Brasil Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, que publicaram a obra em coautoria com o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, também da instituição.  A obra, lançada em novembro em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e o Ministério da Educação (MEC), aponta que uma boa relação com professores contribui para que os estudantes permaneçam na escola e pode influenciar suas escolhas profissionais. O estudo completo está disponível na biblioteca virtual da Flacso.

A pesquisa apresenta motivos que levam alguns estudantes a permanecerem na escola e outros, a abandonarem. A metodologia utilizada buscou escutar essas narrativas e olhares sobre o contexto escolar e o que os jovens pensam em relação às políticas públicas relacionadas à educação. O objetivo é conhecer quem são as pessoas que frequentam a escola e assim identificar o lugar da escola na produção do conhecimento, o clima escolar, as relações com os professores e entre os alunos.

As entrevistas foram realizadas com estudantes do Ensino Médio, do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem Urbano) e do projeto de Educação de Jovens e Adultos (EJA), em escolas públicas. A maioria dos entrevistados vem de famílias com rendimento médio mensal de até três salários mínimos.

A partir do conceito de juventudes, no plural mesmo, Miriam Abramovay explica que “‘juventude” é “um conjunto muito diferente de pessoas, com dificuldades, facilidades e nível de estudo variados”. Segundo ela, é preciso considerar questões como classe social, gênero, raça-cor e contexto histórico. “As juventudes são um conjunto social muito diverso”, diz.

Para Mary Garcia Casto, a escola “é ou deveria ser um dos principais lugares de socialização para a vida em sociedade, para cultivo da solidariedade, para o saber viver de forma gregária e com respeito ao outro e a outra”, estimulando o pensamento crítico e o gosto por conhecimento “além da comum busca por formação, informação e um diploma”, uma exigência do mercado de trabalho. Mas para ela, a escola pode também “colaborar para um bem viver consigo e identificar como o conhecimento pode significar prazer”.

O estudo buscou explicar, justamente, o que leva alunos e alunas a continuarem frequentando as salas de aula. Os três autores têm um histórico de produções críticas à escola, como explica Garcia Castro, “mas acreditamos que outra escola é possível”. Defendem que o ambiente escolar e os estudos são importantes para o combate às violências destes tempos e também para uma boa convivência pessoal e com outras pessoas, além da importância de se descobrir “as potencialidades do saber” como uma motivação para estudar: “os jovens que permanecem na escola o fazem por obrigação, por imposição e muitos outros deixam a escola”, comenta Garcia Castro.

Para Abramovay, diversas causas estão relacionadas ao abandono da escola, como a necessidade de ingressar no mercado de trabalho, alunas que vivenciam uma gravidez e questões de violência, principalmente entre homens. “Os jovens que continuam frequentando as aulas “têm consciência que permanecer na escola é fundamental para seu futuro”, explica. São estudantes que “querem alguma estabilidade e têm muita consciência que isso se dá através do estudo. Muitos querem fazer universidade, e estudantes mais pobres e com menor escolaridade sabem do esforço que fazem para isso. Isso é muito importante na relação juventude-escola, porque por muitos anos se acreditava que os jovens não davam importância para a escolaridade”, avalia.

As entrevistas mostram que jovens que abandonaram a escola, quando voltam, são alguns dos que mais se referem a ela de forma positiva, indicando que perceberam que ela é necessária “quer para fins pragmáticos, instrumentais – como ter um emprego – quer pelo clima de sociabilidade e de socialização que ela pode possibilitar” diz Garcia Castro.

Preconceitos e Senso-Comum

Uma das perguntas elaboradas foi: “Quem você não gostaria de ter como colega de classe?”. No topo dos grupos de identidade apontados como preteridos estão travestis (7,1%), e homossexuais (5,3%). “Temos que pensar o que as escolas estão fazendo e porque elas não dão conta da questão da homofobia, que é tão forte na nossa sociedade e que a escola não consegue trabalhar”, avalia Abramovay. Ela conta que a tendência é de que não se fale de temas considerados “tabus” na nossa sociedade como questões relacionadas a gênero e sexualidade.

Garcia Castro aponta que não faz parte do projeto da escola a construção de um conhecimento para pensar por si e questionar o conteúdo disseminado pela mídia, redes sociais e outros meios de comunicação. Embora na pesquisa a maioria dos jovens indique que a escola deveria discutir sobre preconceitos, “nos debates sobre temas polêmicos relacionados às identidades e reconhecimentos de direitos – como cotas, racismo, homofobia, aborto, maioridade penal e outros – predomina a reprodução de valores de senso comum, por achismos e preconceitos”.

Relação com Professores

As autoras apontam a importância da relação dos estudantes com os professores como uma das principais descobertas.  “Se eles têm um professor de alguma matéria que ensina bem e que, além disso, escuta e tem uma boa relação com os alunos, eles permanecem na escola”, diz Abramovay. A descoberta demonstra que os alunos “querem aprender e precisam de uma boa relação com os adultos nas escolas para isso”.

E para Garcia Castro, os professores “não se dão conta do seu poder na história de vida de jovens”. Outra questão importante levantada é que muitos alunos e alunas escolhem uma carreira porque o professor daquela disciplina “é ‘maneiro’, ou ‘me despertou para a sociologia, mas mudaram o professor e não quero mais saber de ser professor disso não, é muito chato’”, relembra a pesquisadora sobre os discursos coletados durante o estudo.

Gênero

Gravidez, responsabilidade de cuidar da família, orientação sexual, sexismo e sensação de insegurança no trajeto até a escola são dimensões presentes em testemunhos de jovens mulheres, em especial do ProJovem Urbano, para um dia ou várias vezes terem que ter deixado a escola.

A divisão sexual do trabalho que leva muitos homens a serem considerados como provedores e as mulheres as cuidadoras no doméstico está presente também nos discursos de jovens homens, que deixaram de estudar para “sustentar” a família. Garcia Castro afirma que, apesar disso, a questão de gênero vem deixando “uma outra sutil marca”: “a determinação de muitas jovens mulheres em enfrentar aquelas barreiras e voltar a estudar”.

Ela destaca também que convivências hostis que têm como base preconceitos gênero, como a discriminação a estudantes LGBT, são um dos fatores que “podem levar o/a jovem a abandonar a escola”.

Trabalho

A pesquisa mostra que o trabalho é um impulsor básico nas trajetórias escolares, tanto para continuar ou voltar a estudar, como para abandonar a escola. Garcia Castro ressalta que, em muitas sociedades, exercer uma atividade profissional não compete com a continuidade da educação formal. O trabalho “se equaciona com os estudos, por meio de estágios e atividades de meio tempo não muito cansativas, possibilitando uma integração entre aprender na escola e aprender com o trabalho”, diz. No Brasil, especialmente em camadas pobres da população, ele se torna “um empecilho ao bem estudar”. “Jovens que estudam e trabalham chegam à escola, em especial se estudam à noite, cansados. Não podem continuar os estudos e fazer tarefas depois do turno escolar”, explica.

Hoje, uma outra incompatibilidade na combinação bem estudar e trabalhar é o tempo gasto em deslocamentos casa – trabalho – escola, destaca a autora. O aluno chega na escola cansado e “faz de conta que se estuda”, diz. “Os professores, até por sensibilidade com as dificuldades de vida dos alunos que trabalham, fazem de conta que ensinam, limitando-se a transmitir um conhecimento que não exija pesquisas e atividades além das classes”, conclui.

Por Marina Baldoni Amaral – Flacso Brasil

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Livro: Política educacional, cidadania e conquistas democráticas

politicaeducacionalO livro Política educacional, cidadania e conquistas democráticas (São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2013, 128 p.), reúne os debates do Grupo de Trabalho “Educação e desafios da sociedade do conhecimento”, promovido pela Fundação Perseu Abramo, no marco da iniciativa Projetos para o Brasil. A obra, em português, é organizada a partir de grandes tópicos em torno dos quais se organizam os principais avanços e acertos da política educacional no Brasil entre os anos de 2003 e 2013, período que compreende três mandatos consecutivos de convergência programática, os governos Lula e Dilma.

Organizado por Pablo Gentili, secretário executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coordenador do Núcleo de Política Educativa da Universidad Metropolitana de la Educación y el Trabajo (Umet) e do Observatório Latino-Americano de Políticas Educativas (Umet/Flacso/Uerj) o livro busca apontar elementos que sirvam para a realização de um diagnóstico rigoroso, identificando progressos, dificuldades, mediações e complexidades na implementação da política educacional democrática e popular.

A obra pretende assim “construir uma visão analítica e estratégica que sirva de fundamento para a avaliação dos impactos da política educacional e inspire a construção de novos recursos, soluções e alternativas”, afirma Gentili na apresentação de Política educacional, cidadania e conquistas democráticas. Ele elenca algumas das perguntas que inspiraram as discussões do Grupo de Trabalho: “qual foi a herança recebida? Quais e como foram enfrentados os primeiros desafios? Quais as propostas programáticas de cada um dos três governos petistas e como elas se realizaram? Quais as principais conquistas em matéria de política educacional? Que novos temas e questões de política educacional foram incorporadas na agenda pública? Que estratégias de gestão inovadoras foram implementadas? Em que medida cada administração (2003-2007-2011) superou as dificuldades e desafios das anteriores? Quais são os desafios que continuam pendentes?”.

A obra completa, com catorze artigos em português, está disponível para download. Confira aqui.

Autoria da resenha: Marina Baldoni Amaral, Flacso Brasil.

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Fórum Social debate Educação Popular e Universidade

Fórum Social de Educação Popular se reúne em Porto Alegre durante Fórum Social Mundial

Brasília, Brasil/18 de febrero de 2016/Autora: Marina Baldoni Amaral

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Résumen: El Foro Social de la Educación Popular (FSEPop) reunió en enero en Porto Alegre, Brasil, intelectuales de América Latina, África y Europa, organizaciones y líderes sociales, los movimientos, las universidades y los gobiernos para un gran debate sobre la educación popular en el mundo actual. El evento promueve el interconocimiento y el aprendizaje recíproco y crea un espacio para articular alianzas en favor de otro tipo de educación, que considera que la democratización de las sociedades implica necesariamente la democratización del conocimiento .

Fórum Social da Educação Popular (FSEPop) reuniu em janeiro, em Porto Alegre, Brasil, intelectuais da América Latina, África e Europa, organizações e lideranças sociais, movimentos, universidades e governos para um grande debate sobre educação popular no mundo atual. O evento teve como proposta promover o interconhecimento e a aprendizagem reciproca e criar um espaço para articular alianças a favor de outro tipo de educação, que acredita que a democratização das sociedades passa necessariamente pela democratização do conhecimento.

A ideia do fórum surgiu de um diálogo entre a Flacso Brasil, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o projeto Alice, a Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), o Conselho de Educação de Adultos da América Latina (Ceaal), o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e o Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais na África (Codesria).

20160117_103500-300x169FSEPop abriu as atividades do Fórum Social Mundial Temático 2016 com o Encontro da Educação Popular e Universidades: Experiências e desafios, nos dias 17 e 18 de janeiro. O evento foi uma reunião aberta para compartilhar experiências de formação e iniciativas populares que tenham como objetivo a transformação social através da educação.

O Fórum começou levantando o debate sobre a relação entre Educação Popular e Universidade na roda de conversa A relação entre Universidade e Educação Popular – atual momento histórico, com apresentação do sociólogo português da Universidade de Coimbra Boaventura de Sousa Santos, que avaliou o atual momento dessa relação. Ele aponta que universidade e educação popular se tronaram mais complexas e se encontram em uma “encruzilhada”.

Segundo o sociólogo, a Educação Popular surge de uma dupla exclusão das classes populares: a falta de acesso à universidade e o conteúdo de aprendizagem nas universidades, hostis aos interesses desses grupos. Ele avalia que os dois campos estão muito distantes um do outro: “Temos que nos deseducar de muita coisa que aprendemos para nos educar de outra forma. Abrir para outras formas de educação, porque é aí que está o futuro”, defende.

Para Boaventura, o conhecimento popular “tomou mais consciência de si” e os movimentos sociais têm assumido uma posição de protagonismo, utilizando conhecimentos e formas de organização interna próprios, tornando mais complexa a ideia de “classes populares”.

Neste mesmo processo, ele aponta também o surgimento das novas classes médias, nos últimos 15 anos, que passaram por um processo de “inclusão dependente”, através do acesso ao consumo mais do que à cidadania. Boaventura também destaca o que chama de “sociologia das ausências”, indicando uma exclusão ainda mais dura dos que não participaram desse processo de inclusão.

O sociólogo apontou ainda grandes transformações na Universidade, principalmente nas instituições públicas, que passam por um processo de democratização e aumento do acesso graças às políticas de ações afirmativas, “permitindo uma aproximação das classes”. Mas ele destaca que este movimento é “relutante”, “inclui gente diferente mas não inclui cosmovisões diferentes”

Ele avalia que é cada vez mais difícil identificar o opressor e o oprimido, mas essa distinção nunca foi tão importante”. Para Boaventura, Universidade e Educação popular estão “em uma encruzilhada”. “Ela pode ser superada de forma progressista e emancipadora”, ele defende que para isso, a “educação popular precisa de uma universidade progressista e a universidade progressista precisa da educação popular”.

Para Boaventura, “educar é construir experiências que representem o mundo como seu”, e ressalta que, para a grande maioria da população mundial “o mundo lhes acontece, eles não fazem acontecer o mundo. E se não fazem acontecer, não podem o transformar”. O sociólogo defende uma inversão no pacto educativo, propondo uma pedagogia de “retaguarda” que “entra nas classes populares a partir de baixo, caminha com os que vão mais devagar”. “Asas com raízes é a metáfora da utopia educativa do nosso tempo”, concluiu.

Compuseram a roda de diálogo Naomar Almeida Filho, reitor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Lia del Carmen Córdoba Garrido, da Universidad de los Pueblos (Colômbia), Cláudia Rose, do Museu da Maré (RJ), e Jesus Alejandro Vera Jimenez, reitor da Universidad Autónoma del Estado de Morelos (México), que comentaram a apresentação de Boaventura e falaram sobre suas experiências, como a da UFSB. A universidade tem compromisso com a “ecologia de saberes”, conceito trabalhado por Boaventura para a relação entre os conhecimentos, e que é eixo estrutural da relação dos estudantes com a instituição. “Estamos buscando construir na prática este enorme complexo de ideias, princípios e conceitos, que são um projeto de universidade”, disse Naomar Filho.

Participaram da mesa de abertura do FSEPop Salete Valesan Camba, diretora da Flacso Brasil, Mauri Cruz, presidente da Abong, Albet Sansano (STEs), Oscar Jara, do Conselho de Educação de Adultos da América Latina (Ceaal), presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre, o vereador Cassio Trogildo.

CZBpVL3WYAEN3uy-300x169Universidade e Educação Popular – Durante os dois primeiros dias de evento, os participantes do FSEPop trabalharam em grupos temáticos para discutir a relação entre Universidade e Educação Popular em quatro eixos: Direitos Humanos; Cultura; Extensão e Saberes populares, saberes acadêmicos e investigação. O trabalho fez parte da atividade “Viajando na relação entre Universidade e Educação Popular”.

Os grupos foram convidados a apresentar os resultados das discussões de forma criativa, e trouxeram para o fórum jograis, cartazes, dinâmicas e um cordel (que pode ser acessado aqui).

“Não faz mais sentido que Educação Popular e Universidade estejam separados”, disse Salete Valesan Camba, diretora da Flacso Brasil, durante o “Papo Final”, encerrando o segundo dia do FSEPop. Ela usou a metáfora da “educação de corpo inteiro” para defender que, assim como o ser humano não deve ser subdivido em partes, “não faz mais sentido que as escolas continuem dividindo as pessoas, os sujeitos, as mentes e o conhecimento em partes”. “Isolados e fragmentados não somos nada”, concluiu.

Oscar Jara destacou que a educação popular é um fenômeno sócio-político e cultural latino-americano, mas é também uma concepção de educação e deve permear todas as atividades educativas, inclusive as universidades.

Jara defende que a história é uma “construção” e devemos “fazer a história que a gente quer ter”. Ele avalia que os grupos de trabalho do fórum têm identificado os eixos problemáticos da educação e “colocaram uma agenda de trabalho que surge de nossas práticas”.

CZBpGKlWYAQQx-0-300x169Em sua fala, Pablo Gentili, secretario-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) discutiu como incorporar novos saberes e transformar, a partir de dentro, as universidades, para torna-las críticas e transformadoras. Ele defendeu que, para isso, a universidade precisa incorporar metodologias e práticas de educação popular. “A distinção entre educação pública e educação popular é uma falsa dicotomia”, argumentou. Para ele, “não existe público que não tenha a ver com o comum”. Ele defendeu que as universidade precisam “fortalecer e gerar práticas desinstitucionalizantes para poder questionar uma ordem que parece permanente”.

“Só há educação popular porque a educação formal é anti-popular”, disse Boaventura de Sousa Santos. “A mais anti-popular é a universidade”, complementou. “Estamos aqui para juntar o que foi separado porque foi separado exatamente para dividir e descaracterizar”, defendeu. O sociólogo argumentou que é necessário trabalhar para superar essa distinção: “Se praticarmos três verbos, democratizar, descolonizar e despatriarcalizar, estaremos superando essa distinção, que será cada vez mais do passado do que do futuro”, concluiu.

20160122_153139Mesa de Convergência – Na sexta-feira (22), a mesa de Convergência de Educação: A Educação Popular e os Direitos Humanos, do Fórum Social Temático 2016, teve a participação da ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, de Baltasar Garzón, jurista espanhol especialista em direitos Humanos, do sociólogo Boaventura de Souza Santos (CES/UPMS – Portugal), Beatriu Cardona, do STEPV, de Valencià, Espanha, Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire, Verônica Lima (Frepop – Brasil). A diretora da Flacso Brasil, Salete Valesan Camba facilitou a mesa ao lado de Albert Sansano, da Confederação dos Sindicatos das Trabalhadoras e Trabalhadores da Educação (STEs) (Espanha) e Mauri Cruz, da Abong.

 “Viva o autodidatismo, é daí que eu entendo a educação popular”, disse Moyses Martins, rapper e cadeirante, membro do Brasil Acessível e do coletivo Família Rap Nacional, que participou da mesa de convergência A educação popular e os Direitos Humanos. “Quem primeiro resgatou o Moyses foi a educação popular, o rap nacional, que eu entendo como uma reivindicação criada a partir da nossa realidade”, avalia. Moysés intercalou sua fala com versos de suas músicas e demonstrou a quem estava no Auditório Araújo Viana a importância de se incluir diferentes saberes nos debates sobre o tema.

É preciso transformar “a vida, ela própria, na escola”, disse o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra e da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS). Em sua fala ele destacou a importância de “educar os educadores”, um processo que deve ser feito tirando-os da sala de aula e da “zona de conforto” proporcionada pelo entendimento de que conhecimentos e saberes formais são mais valiosos do que populares.

“Educar é criar consciência de que o mundo é nosso” disse. E completou: “Se eu representar o mundo como meu eu posso transforma-lo”. Ele elencou três processos de dominação que atravessam toda a sociedade: capitalismo colonialismo e patriarcado. “Atuam sempre articulados. Mulheres, negros e indígenas sabem muito bem”, disse.

Moacir Gadotti, presidente do Instituto Paulo Freire, falou sobre a necessidade de articulação entre lutas de diferentes temáticas: “Nos interessa a educação popular ao lado da noção de democracia de direitos e justiça social”. Ele analisa que, para construção de um sistema nacional de educação popular ainda falta um grande caminho, e entende que a mercantilização da educação “entrou no ethos do sistema educacional brasileiro”.

Mauri Cruz, presidente da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong) e do comitê organizador do FSMT afirmou que a mudança para um outro mundo “só será completa a partir da educação popular”, que permita o empoderamento dos povos. Ele avalia que “a energia de educação continua forte e latente no Brasil e na América Latina”, mas que os processo reais de aprendizado são lentos. “Leva tempo para construir a real consciência crítica”, disse, explicando que ela tem uma relação dialética entre a prática concreta e construção teórica.

Camila Lane, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) falou sobre a experiência recente vivida por estudantes secundaristas em São Paulo, que ocuparam escolas estaduais ameaçadas de fechamento pelo governo do Estado. “Precisamos pensar nas ocupações como pequenas experiências da educação popular que queremos”.

Ela coloca como desafio do movimento estudantil consolidar uma escola popular, não só na formação do pensamento crítico, mas da inclusão social. A organização entende que reformulação do médio e básico são uma estratégia para alcançar uma mudança de pensamento na geração. “A escola é um território de lutas, se a escola não mudar, o Brasil não vai mudar”, disse, ressaltando a importância da educação para enfrentar o racismo, o machismo e a homofobia.

“Um dos maiores desafios dos governos progressistas, em tempos de realinhamento das forças, é se posicionar firmes, mantendo o princípio de que os direitos das pessoas estão acima dos direitos dos mercados” disse a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes. Ela falou sobre o desafio de conquistar políticas de direitos humanos em um cenário “permeados por interesses diversos”, e concluiu que é estratégico manter a “sintonia com os movimentos sociais”. “É o que vai nos dar legitimidade”, afirmou. Para ela, a principal relação entre direitos humanos e educação popular é que ambos buscam “recuperar a humanidade roubada de sujeitos”.

“A construção teórica dos Direitos Humanos já temos, há grande teorias e tratados, mas nos falta um desenvolvimento prático, real e participativo através de uma dinâmica claramente em defesa dos movimentos sociais”, defendeu Baltazar Garzón, jurista espanhol especialista no tema. Ele falou sobre a necessidade de novos protagonistas, “mais apegados às realidades” e mais “reflexivos e conhecedores das dinâmicas sociais”.

Beatriu Cardona, do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação de Valencia, Espanha, classifica a educação como um direito humano “fundamental para exercer e consolidar os direitos humanos”. “O neoliberalismo, o FMI e grandes corporações e bancos não querem uma educação popular porque ela representa um perigo para seus interesses”, avalia, já que ela é “feita por e para o povo” e tem igualdade, cooperação, solidariedade e inclusão como principais valores.

Para Boaventura, “Se queremos fazer acontecer e transformar o mundo, temos que ser utópicos, ter asas com raízes”. Ele destacou a importância de “juntar os saberes para vencer as lutas dos tempos atuais”, aliando universidade e educação popular, avaliando que as universidades públicas estão subfinanciadas e já não têm o apoio das elites, “que educam seus filhos nas universidades globais” e nem das classes populares. “Temos que construir uma outra universidade, que seja popular”, concluiu.

Salete Valesan Camba, diretora da Flacso Brasil e facilitadora da mesa, afirmou que a atividade foi organizada de forma representativa dos diversos fóruns que compõe o Fórum Social Mundial. Albert Sansano, (STEs, Espanha), também facilitador da mesa, também destacou o formato adotado: “é uma base bastante completa”.

Carta de Porto Alegre – Como resultado do FSEPop, foi construída a Carta de Porto Alegre, documento que defende a ampliação da atuação da educação popular e denuncia a precarização e mercantilização das universidades latino-americanas, “como consequência de uma expansão do capitalismo global”, citando como exemplo desse processo a promulgação pelo governo brasileiro da Lei 13. 243/2016, que regulamenta os estímulos ao desenvolvimento científico, à pesquisa, à capacitação científica e tecnológica e à inovação.

“Entendemos que a democratização das sociedades deve passar pela democratização do conhecimento, tanto básico como avançado. Este processo assenta-se não só na conquista de maior acesso ao saber acadêmico, o que requer a universalização do acesso à universidade, mas, sobretudo, uma revolução epistemológica, considerando como conhecimento válido os saberes leigos, populares, tradicionais, urbanos, camponeses e oriundos de culturas não ocidentais, como indígenas, de origem africana, orientais, entre outros. Assim, para nós é cada vez mais óbvio que a universidade precisa da educação popular”, defendem. Leia o documento completo aqui.

Por Marina Baldoni Amaral – Flacso Brasil

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Após mutirão, campanha Zika Zero foca na volta às aulas

Brasília, Brasil

Nos próximos dias, alunos de diversas escolas em todo o País voltam às aulas. Como nos anos anteriores, a equipe do Plano de Mobilização Social pela Educação no Ministério da Educação (PMSE/MEC) aproveita o momento de maior presença de pais, mães e responsáveis nas escolas para reafirmar a importância do diálogo com as famílias sobre a necessidade de acompanhar a vida escolar dos seus filhos e filhas.

Um tópico que vai ser enfatizado nesta volta às aulas é o combate ao Aedes aegypti,  vetor de transmissão da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus. Será promovida a adesão das escolas e da comunidade à campanha Zika Zero, que tem como objetivo eliminar o mosquito por meio da mobilização de estudantes, professores e servidores da educação.

Leia mais sobre a campanha.

A Flacso Brasil é signatária, junto a outras 19 entidades, do Pacto da Educação Brasileira contra o Zika. A iniciativa do Ministério da Educação (MEC) tem o objetivo de articular uma grande rede de mobilização para realizar um plano de enfrentamento ao mosquito Aedes aegypti em todos os segmentos da educação brasileira. O objetivo é usar escolas, universidades e institutos de educação como meio para estabelecer diálogo, levantar debates e levar informações sobre o combate ao mosquito.

Mobilização Nacional – No último sábado (13), Dia Nacional de Mobilização Zika Zero, 2,8 milhões de residências em 428 municípios do País, foram visitadas por 220 mil integrantes das Forças Armadas, 46 mil agentes de combate às endemias e 266 mil agentes comunitários de saúde. Mais 160 representantes do governo federal, incluindo ministros, chefes de autarquias e presidentes de bancos públicos federais e de estatais, participaram da ação em diferentes cidades. A presidenta Dilma Rousseff visitou casas e conversou com moradores no Rio de Janeiro. As casas, terrenos baldios e construções abandonadas concentram de 70% a 80% dos focos de reprodução do mosquito Aedes aegypti.

 “Foi um dia muito importante mostrando identidade e unidade nacional, do município até o governo federal”, afirmou o ministro da Saúde, Marcelo Castro. “Nós seremos vitoriosos. Para isso é imprescindível, é indispensável que a sociedade brasileira abrace essa causa e elimine os criadouros do mosquito”.

O ministro da Defesa, Aldo Rebelo, destacou o sucesso da mobilização envolvendo as Forças Armadas. “Julgamos que alcançou plenamente os objetivos, integrou a ação das Forças Armadas com ações do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de saúde. Essa mobilização e integração, que ocorreram em todos os 26 estados e no Distrito Federal, foi importante para elevar o nível de mobilização das famílias, das pessoas dentro de casa”.

Ele reforçou que a ação não terminou no sábado. A partir desta segunda (15), 55 mil integrantes das Forças Armadas prosseguem atuando até o dia 18 aplicando larvicidas e produtos de combate ao mosquito ou no apoio aos agentes de saúde.

O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, avaliou que o Dia Nacional de Mobilização Zika Zero foi fundamental para o engajamento da sociedade. “Não há poder público sem participação da sociedade que consiga vencer essa batalha”. Ele incentivou cada família, no seu dia de faxina semanal, a tirar de 15 a 30 minutos para revisitar ralos, caixas d’água, e todo o quintal. “A tarefa será perene, de longo prazo. Temos que ter dimensão de longo prazo do combate, [tem que ser uma] questão constante”, disse.

Ele apontou que, na sexta-feira (19), começam, sob coordenação do Ministério da Educação, ação de conscientização dos estudantes. A medida coincide com o retorno às aulas na maior parte das escolas pelo País e também contará com o apoio das Forças Armadas.

Para mais informações sobre o combate ao mosquito, acesse: http://combateaedes.saude.gov.br

Para saber mais sobre o mutirão, visite: http://zikazero.tumblr.com/

*Com informações do Blog do Planalto e do Blog da Mobilização

Por Marina Baldoni Amaral – Flacso Brasil

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