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Novas Dinâmicas do Ensino Superior no Brasil: O Público e o Privado

Novas Dinâmicas do Ensino Superior no Brasil: O Público e o Privado se propõe a explicar os processos recentes de privatização e mercantilização do ensino superior no Brasil, avaliando as respostas do sistema nacional para a demanda crescente por ensino superior no país.

O novo artigo do Grupo Estratégico de Análise do Ensino Superior (GEA – ES), da Flacso Brasil, é escrito por Helena Sampaio, professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e líder do Laboratório sobre Acesso e Permanência (LAP/UFF).

Avaliando uma década de intenso crescimento de matrículas de ensino superior no país – número que atualmente gira em torno de sete milhões – ela destaca que nesse processo de ampliação do atendimento o setor privado – predominante no sistema de ensino superior brasileiro desde a década de 1970 – aumentou ainda mais sua participação e responde atualmente por 85% das instituições e por 74% do total de matrículas.

A autora aponta um aspecto particular do modelo privado de ensino superior no Brasil: o uso de recursos públicos para financiar parte significativa dos estudantes matriculados em instituições privadas. Sampaio se propõe a analisar esse financiamento público da demanda de ensino superior enquanto manifestação da privatização, observando principalmente dois programas federais: o Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede isenção de impostos às instituições privadas com finalidade lucrativa em troca de bolsas, e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa de crédito educativo garantido pelo governo.

O estudo é orientado por três hipóteses: “A primeira é a de que circunstâncias de cunho normativo, político-ideológico e de mercado confluem há pelo menos quarenta anos para o deslocamento do ensino superior na direção do mercado, tornando o sistema brasileiro um anfitrião receptivo das entidades privadas com fins lucrativos que atuam nesse mercado. A segunda hipótese é a de que políticas recentes de ampliação do acesso e permanência e os fenômenos de intensificação da privatização das matrículas e mercantilização desse nível de ensino são processos mutuamente implicados e dependentes. E a terceira hipótese é a de que as políticas de ampliação do acesso e de permanência no ensino superior adotadas nos últimos anos não só resultaram na expansão do sistema como também implicaram em uma nova reconfiguração do mesmo: aspectos constitutivos da dualidade público e privado, tais como origem do financiamento estudantil, custo para os alunos, mecanismos de acesso, distribuição geográfica das instituições, perfil dos estudantes, distribuição das matrículas por área do conhecimento, entre outros, tornam-se mais nuançados, dando lugar a outros contrastes e segmentações no interior de cada um desses setores”.

O trabalho reúne dados de diferentes naturezas e fontes: séries estatísticas do ensino superior no Brasil, dados quantitativos específicos ao setor privado, documentos oficiais relativos a leis e decretos que disciplinam o ensino superior no país.

Dividido em três parte, na primeira, a autora apresenta as circunstâncias prévias dos processos de privatização e mercantilização do ensino superior no Brasil. Na segunda, a partir de dados estatísticos, ela busca mostrar como as políticas de ampliação do acesso e permanência no ensino superior e os processos de privatização e de mercantilização desse nível de ensino são fenômenos mutuamente imbricados. Na terceira parte, a partir da análise de dados de matrículas no ensino superior, por cursos e áreas do conhecimento, Sampaio apresenta alguns indícios dos efeitos das políticas de ampliação do acesso e permanência no ensino superior e do mercado para uma nova reconfiguração do sistema nacional.

Confira o artigo completo aqui.

Foto: Luiz Filipe Barcelos/ UnB Agência

Fonte: Marina Baldoni Amaral – Flacso Brasil

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Lançamento: Mutirão em Novo Sol (Nelson Xavier – peça; Augusto Boal – coautoria)

O Laboratório de Investigação em Teatro e Sociedade (LITS) e a Expressão Popular, trazem ao público a obra «Mutirão em Novo Sol» de Nelson Xavier e Augusto Boal.

Escrita em 1961 a partir do caso real de uma revolta de lavradores ocorrida anos antes em Santa Fé do Sul, interior de São Paulo, Mutirão em Novo Sol é um dos textos mais importantes do teatro brasileiro moderno e pouco conhecido. A peça inaugurou uma sequência de espetáculos de temática camponesa produzidos antes do golpe de 1964, influenciando o cinema novo do período, e teve suas encenações marcadas pela sofisticação e experimentalismos inéditos no teatro épico brasileiro.
Segundo Iná Camargo Costa
«O presente livro constitui mais um pertardo contra a versão dominante a respeito das relações entre teatro e política no período que antecedeu o golpe de 1964. Ao contrário do que se afirma, inclusive os meios ditos de esquerda, desde a segunda metade da década de 1950 os militantes a favor de uma arte comprometida com as lutas em andamento, além de perfeitamente esclarecidos sobre as questões estratégicas – neste caso, a mais explosiva delas: a reforma agrária -, estavam inteiramente sintonizados com as exigências estéticas mais radicais. A peça e a experiência de Mutirão em Novo Sol constituiem, por si só, uma prova contundente desta afirmação.
Tem dimensões épicas a operação-resgate que permitiu a produção deste documento precioso, enriquecido com informações que passam pelos depoimentos de Nelson Xavier (um dos autores do texto, que preservou uma cópia), do saudo Chico de Assis e de Rafael Villas-Boas (que realizou seu resgate), bem como pelas contribuições de jovens pesquisadores verdadeiramente interessados em toda esta história.»
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Monique Evelle: «las herramientas digitales pueden usarse para la construcción política o el pacto social o como fuerza para desestabilizar «

24 febrero, 2016 |Antonella Perini | Asuntos del Sur

* Por Antonella Perini

No tengo dinero para comprar Facebook, ¡pero la capacidad que me dan las nuevas tecnologías me permiten crear una! Eso es empoderamiento. Monique Evelle es nativa digital, activista de derechos humanos y fundadora de Desabafo Social, una organización que busca empoderar a los jóvenes en la vida pública mediante acciones educativas y de comunicación. Interesados en conocer su experiencia y visión sobre las transformaciones que están hackeando la política, hablamos con ella sobre los resabios históricos en Brasil, la utilización de las herramientas digitales en la vida pública, el rol de los jóvenes en la construcción democrática de la región y la manera de abordar los derechos humanos en la era digital.

Resabios excluyentes en Brasil

Brasil tiene hoy 515 años. Pero fueron más de 400 años de esclavitud y 21 años de dictadura militar. Como sostiene Monique, por cuestiones históricas, las personas reproducen el racismo, la xenofobia y el machismo de forma natural. Estos son los resquicios de los años de esclavitud, dictadura y patriarcado.

En 2015 se eligió en Brasil al Congreso más conservador después de la dictadura militar. Para Monique, esta ola conservadora que está teniendo lugar también en otros países de América Latina, está dando a la democracia un trabajo doble: por un lado, luchar por los derechos ya garantizados -y que en el caso de Brasil están retrocediendo-; y por el otro lado, intentar cambiar las desigualdades existentes, tanto las sociales y de clase, como las raciales y de género.

Todo esto se da en un contexto en el cual el modelo escolar, un modelo que data del siglo XVIII, y el modelo partidario, tampoco cambiaron. Ambos modelos están quebrados y no tienen en cuenta las demandas de los jóvenes. El sistema de partidos no acompaña en el espacio y en el tiempo a las nuevas generaciones que están insatisfechas con los modelos quebrados de democracia. Como aclara Monique, “no queremos sólo hablar de derechos civiles, queremos hablar de derechos difusos; quiero hablar de libertad de la comunicación, quiero hablar del derecho a la libertad sexual”.  Para la generación Y, la generación Z y las generaciones que vienen, “los modelos democráticos necesitan ser diferentes”.

Herramientas digitales como megáfonos y termómetros

En contraposición a los modelos institucionales tradicionales, las herramientas digitales abren nuevas posibilidades. Monique ve las herramientas digitales como una suerte de megáfonos y termómetros. Por un lado, porque la popularización de internet posibilitó que ésta se convierta en una caja de resonancia, en un espacio abierto de demanda social, tal como se observó durante las manifestaciones de 2013 y 2014 en Brasil.

Por el otro lado, las herramientas digitales sirven de termómetro de las políticas de gobierno y la democracia actual.  De hecho, en los últimos años, el gobierno federal de Brasil lanzó tres plataformas de software libre para acompañar y controlar las políticas que están siendo construidas conjuntamente con la sociedad. No obstante, la participación de la sociedad no deja de tener sus obstáculos: cuando se intentó ampliar las participaciones directas dentro del legislativo, éste limitó la participación.

Como sostiene Monique, las herramientas digitales pueden usarse para la construcción política o el pacto social o bien como fuerza para desestabilizar o hacer un control social. “A pesar de que tenemos hoy mayor acceso a las plataformas digitales, todavía tenemos que pensarcómo esas herramientas son utilizadas“.

Valorización de las nuevas generaciones

Las nuevas estrategias políticas pensadas por los jóvenes se articulan no sólo en el espacio físico sino también en el ciberespacio. Monique sostiene que cuando uno vea que, por ejemplo, una persona está conectada y la otra no, y a pesar de eso, el diálogo fluye y el partido respeta las opiniones, podremos decir que estamos en un estado democrático, de derecho y de bienestar social. “En cuanto veamos eso, no vamos a estar discutiendo si en Brasil y otros países de América Latina existe una democracia real”.

Monique asegura que en Brasil las diferentes generaciones desvalorizan a las generaciones que están llegando. Dado que la convivencia intergeneracional alimenta el principio democrático, hace un llamado a la acción, “precisamos respetar la opinión del otro sin eliminarlo”.

En Brasil, nos cuenta Monique, existen leyes que obligan a las escuelas a hablar sobre racismo y género. Sin embargo, los educadores no tienen la formación suficiente para hablar sobre esto o el lenguaje utilizado no da cuenta del contexto, -”cuando quieres hablar de derechos humanos con un niño, tienes que tener el lenguaje del niño”-.

En respuesta a esta problemática, Ubuntu, la plataforma de software libre y código abierto creada por Desabafo Social, tiene por objetivo debatir los derechos humanos con un lenguaje que todos entiendan y que facilite la fuerza de diálogo y construcción. ¿Por qué una nueva red social? Porque “hay que hablar sobre un asunto y un medio que no sea de mercado, que no sea neoliberal”.

Abrir el debate sobre los derechos humanos en internet

Las movilizaciones que tuvieron lugar en Brasil en los últimos años aumentaron la difusión de las demandas sociales, pero al mismo tiempo también aumentaron los números de violaciones de derechos en internet. Lo que preocupa a Monique es que estas articulaciones políticas tienen lugar en las redes sociales controladas por empresas privadas que venden nuestros datos a otras empresas con fines comerciales.

Las personas no están discutiendo la propia internet. Esta cuestión todavía se está desarrollando como un debate académico, todavía no es un debate abierto para toda la sociedad. Monique reconoce que el problema recae en la forma y el lenguaje con el que se habla sobre los derechos humanos en internet. “Si fuese abierto las personas tendrían más curiosidad de, por lo menos, leer los términos de uso de las redes sociales antes de cliquear el ‘ok, estoy de acuerdo’”. Además, sostiene Monique, el sistema capitalista te dice que si no formas parte de la mayor red social, no sos nadie, y es difícil luchar contra esto. “Yo no tengo 5 millones de dólares para comprar Facebook y hacerla una red social libre, por eso creé otra [Ubuntu]“.

* Colaboradora de #InnovaPolíticaLatam

Fuente de la Entrevista y de la foto: http://www.asuntosdelsur.org/blog/2016/02/24/como-abordar-los-derechos-humanos-en-la-era-digital-entrevista-a-monique-evelle/

Fuente de la foto del encabezado: http://www.asuntosdelsur.org/innovapolitica/wp-content/uploads/sites/4/2016/02/monique-ds.jpg

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Porto Alegre acogerá III Encuentro de Ciudades y Universidades

Brasil/ 21 marzo 2016/ Autor y Fuente: Prensa Latina. Agencia Informativa Latinoamericana.

El desarrollo local ybrasil cultural, inclusión social, planeamiento territorial y medio ambiente, serán algunas de las temáticas a debatirse en el III Encuentro de Ciudades y Universidades, informó hoy la Secretaría Permanente de Mercociudades.

La cita, que abordará además la gestión de riesgo y gobierno digital, se desarrollará del 11 al 13 de abril, en la Universidad Federal de Rio Grande del Sur, Porto Alegre, Brasil.

Los tres días del encuentro servirán para socializar experiencias y buenas prácticas de cooperación entre ciudades y universidades, además de analizarse las políticas públicas e institucionales de promoción de estas experiencias, para lo cual se expondrán recomendaciones para su fortalecimiento.

También habrá un panel denominado «Desarrollo de la Frontera hacia una Integración más Inclusiva», enfocado a reunir las mejores prácticas entre las ciudades y las universidades para construir un debate propositivo acerca de las formas de acción en la región fronteriza que conduzca al desarrollo local.

Unas 50 experiencias de intercambio de ciudades y universidades de Brasil, Argentina, Bolivia, Chile, Paraguay y Uruguay serán presentadas en el evento, dijo la fuente.

Los trabajos mostrados se incluirán y difundirán en el banco de buenas prácticas del Observatorio Urbano de Transferencias e Innovaciones tecnológico-sociales de la Asociación de Universidades Grupo Montevideo y Mercociudades.

Fuente de la Noticia:

http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&idioma=1&id=4718181&Itemid=1

Fuente de las Fotografía e Imagen:

Foto: http://es.omnidreams.net/c/2506-porto-alegre

Imagen: http://cooperacion.udelar.edu.uy/es/?p=5415

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Un nuevo intento de golpe

Hoy, en Brasil, se ha avanzado un paso más en el proceso de desestabilización institucional que pretende perpetrar un sector del Poder Judicial, la Policía Federal, los monopolios de prensa y las fuerzas políticas que han sido derrotadas en las últimas elecciones nacionales. Una desestabilización del orden democrático que tiene un objetivo principal: impedir que las fuerzas progresistas sigan gobernando el país y, especialmente, acabar definitivamente con el Partido de los Trabajadores y con su figura más emblemática, el ex presidente Lula.

Esto es lo que está en juego y es esto lo que explica una multiplicidad de acciones judiciales, denuncias de la prensa nunca demostradas, insultos, amenazas, ataques públicos y una persistente ofensiva parlamentaria por parte de las fuerzas más conservadoras y reaccionarias del país.

Se trata de criminalizar y de responsabilizar al PT y a su presidente honorario de actos de corrupción, usando hechos que la Justicia aún investiga como si fueran parte de un plan organizado desde el propio centro neurálgico del poder; esto es, los mandatos presidenciales de Lula y Dilma Rousseff. Encontrar una conexión entre ambos mandatarios y los hechos de corrupción analizados por la Justicia es la gran obsesión y, quizás, la única carta que hoy tiene la derecha brasileña para volver al poder, destruyendo los avances democráticos de la última década.

Lo que está en juego es el futuro de Brasil como nación democrática.

Obviamente, la oposición tiene todo el derecho de aspirar al poder. Pero después de 30 años de democracia, ya debería haber aprendido que la única forma de hacerlo es por el voto popular. Pero no lo aprendió. Después de su última derrota electoral pretende volver al poder por la vía de un golpe judicial o de un impeachment, cuya fundamentación jurídica y política no es otra que la necesidad de despojar al pueblo de su mandato soberano.

Nada se ha demostrado sobre la vinculación del ex presidente Lula o de la presidenta Dilma Rousseff con cualquier hecho ilícito. Pero decenas de calumnias se han formulado contra ellos.

Como quiera que sea, los poderes golpistas saben como actuar. Y actúan. Si no pueden encontrarse pruebas que confirmen las denuncias, pueden crearse hechos que, ante una opinión pública pasmada y desconcertada, hagan parecer culpables a quienes no lo son. El Estado de Derecho se desmonta cuando uno de los principios que lo sustentan se desintegra ante maniobras autoritarias del Poder Judicial y el sistemático abuso de poder de una Policía que ha demostrado ser más eficiente matando jóvenes pobres inocentes que controlando las principales redes del delito que operan en el país.

Ayer por la mañana, un amplio operativo policial irrumpió en la residencia del ex Presidente Lula y lo detuvo con un mandato de “conduçao coercitiva”. Dicho mandato de conducción coercitiva es un medio del que dispone la autoridad pública para hacer que se presente ante la Justicia alguien que no ha atendido la debida intimación y cuya declaración testimonial es de fundamental importancia para una causa penal. El riesgo de fuga o la peligrosidad del sujeto, así como su desatención a las intimaciones judiciales, obligan al uso de este mecanismo coercitivo.

¿Sería razonable aplicarlo a un ex presidente de la república que siempre se ha presentado a declarar cuando le fue solicitado?

Sí, si lo que se quiere es humillarlo, destituirlo de autoridad, desmoralizarlo, postrarlo ante la opinión pública brasileña y el mundo. Hoy, los diarios y noticieros de todo el planeta mostrarán a un Lula llevado por la Policía Federal en medio de un fuerte esquema de seguridad, como si fuera un delincuente. No fue preso ni es culpable de nada en términos jurídicos, es verdad. Pero eso, ¿a quién le importa? Parece preso y culpable. Con eso basta, al menos, por ahora.

No debe sorprender que el hecho ocurra menos de una semana después que, en el festejo de los 36 años del Partido de los Trabajadores, el ex presidente Lula manifestó que si fuera necesario e imprescindible, será él quién asuma el desafío de presentarse como candidato de las fuerzas progresistas a la futura elección presidencial. Allí, miles de militantes le brindaron su apoyo y solidaridad ante los ataques recibidos.

La respuesta de la justicia golpista no demoró en llegar.

Aquí no está en juego ninguna causa por la justicia, la transparencia ni el necesario combate a la corrupción. Aquí está en juego un proyecto de país y, no tengo dudas también, un proyecto de región. El golpe judicial, policial y mediático que se lleva a cabo en Brasil no es ajeno a la situación que vive el continente y a los vientos que corren a favor de las fuerzas conservadoras y neoliberales en toda América latina.

Intentan cambiar la historia, torciéndola a favor de sus intereses antidemocráticos. No lo lograrán.

* Secretario ejecutivo de Clacso.  

Pubilcado originalmente en Pagina12

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Para não reduzir crianças a consumidores

STJ classifica publicidade infantil como abusiva e rechaça esforço de empresas para “fidelizar” seres humanos desde cedo, associando-os a marcas e produtos

Por Lais Fontenelle

Nesta semana, quando celebramos 25 anos do Código de Defesa do Consumidor, uma notícia nos faz acreditar que a transformação é não apenas possível, como está próxima. Em 10 de março, pela primeira vez o abuso da publicidade voltada ao público infantil chegou a um tribunal superior e foi analisado em seu mérito. Por decisão unânime, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), conhecido por ser o Tribunal da Cidadania, julgou abusiva uma publicidade de biscoitos da Bauducco.

A vitória é resultado de uma longa trajetória. Em 1983, a ONU reconheceu os direitos do consumidor e tornou a causa internacionalmente legítima. No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor, um dos mais completos do mundo, foi publicado em 11.09.1990, mas só entrou em vigência em 11.03.1991, três anos após a promultação da Constituição Federal – uma resposta do poder público aos anseios da sociedade em relação aos avanços desgovernados da atual sociedade de consumo.

Data também do início dos anos 90, segundo alguns autores, a crise conceitual da infância – quando as crianças, que eram tidas como um vir-a-ser e precisavam ser preparadas para o mundo adulto, foram elevadas pelo mercado ao status de consumidoras, antes mesmo de estar aptas ao exercício pleno de sua cidadania. Vale destacar que a criança nem sempre foi vista da mesma forma no decorrer da História. A sociedade medieval, até aproximadamente o século XII, não costumava nem retratar as crianças – indicando que elas pareciam não fazer parte do espaço social. A infância era vista como um período de transição, logo ultrapassado.

De lá para cá, o cenário mudou. A criança perdeu o anonimato e tornou-se foco das atenções do mercado, que passou a enxergá-la como consumidora final, além de alguém com forte influência sobre amigos e família. É o que indica pesquisa da Interscience, segundo a qual elas influenciam 80% dos processos decisórios das compras da família, funcionando como promotoras de venda dentro de casa (1). Nesse contexto é que ganhou força a publicidade dirigida às crianças.

Hoje, a publicidade infantil não só invadiu a web, as escolas e os parques, como também passou a endereçar à criança mensagens sobre objetos do universo adulto, somadas às de produtos infantis. Além de porta de entrada para influenciar os hábitos de consumo da família, o mercado considera que, quanto mais cedo uma criança é fidelizada a uma marca, mais chances há de ela manter-se fiel por toda a vida. Assim, vendem-se para elas coisas como carros e seguros de vida, roubando-lhes a infância – fase essencial de desenvolvimento da capacidade crítica, intelectual e afetiva do ser humano.

Cabem aqui algumas perguntas. Como podem as crianças, antes mesmo de autorizadas a trabalhar ou compreender totalmente a persuasão contida nas mensagens publicitárias, exercer relações de consumo que envolvem diretamente trocas monetárias? Ou ser alvo de mensagens que necessitam de compreensão crítica e capacidade de abstração, que a maioria das crianças ainda não têm formadas até cerca de doze anos? Não podem. Tanto que o próprio Código de Defesa do Consumidor Brasileiro previu protegê-las, como fica evidente no Art. 37 ao afirmar que “é proibida toda publicidade enganosa ou abusiva”, e explicar, no parágrafo §2º, que “é abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeite valores ambientais ou seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. (…)”.

Vale destacar a declaração de voto do ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça, na decisão que considerou a publicidade infantil abusiva:

“O julgamento de hoje é histórico e serve para toda a indústria alimentícia. O STJ está dizendo: acabou e ponto final. Temos publicidade abusiva duas vezes: por ser dirigida à criança e de produtos alimentícios. Não se trata de paternalismo sufocante nem moralismo demais, é o contrário: significa reconhecer que a autoridade para decidir sobre a dieta dos filhos é dos pais. E nenhuma empresa comercial e nem mesmo outras que não tenham interesse comercial direto têm o direito constitucional ou legal assegurado de tolher a autoridade e bom senso dos pais. Este acórdão recoloca a autoridade nos pais”.

O resultado de 5×0 na decisão do STJ é fruto de ação movida pelo Ministério Público de São Paulo contra a Pandurata, dona da marca Bauducco. A ação, de 2007, teve origem numa denúncia do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana contra promoção de venda casada em que cinco embalagens do pacote de biscoitos, cada um ao custo de R$ 5, davam direito a um brinde. O processo foi julgado também pela ministra Assussete Magalhães, presidente da Segunda Turma do STJ, que considerou “um caso típico de publicidade abusiva e de venda casada, igualmente vedada pelo Código de Defesa do Consumidor, numa situação mais grave por ter como público-alvo a criança”. Se a Pandurata recorrer, o processo seguirá para o STF (Superior Tribunal Federal).

Desde já, contudo, a decisão é um marco a ser comemorado, uma vez que poderá influenciar novas decisões para casos semelhantes que cheguem a esse tribunal superior e certamente influenciará tribunais estaduais, juízes de 1ª instância e quem mais tem autoridade para fiscalizar ou coibir os abusos publicitários.

Esperamos ainda que influencie as decisões das empresas que atuam no país, para que cumpram a legislação vigente e repensem a comunicação dirigida às crianças.

A conquista é fruto do trabalho de gente comprometida com a causa, mas também de uma sociedade que não tolera mais abusos, fruto de um momento histórico muito particular em nosso país em que a sociedade – e aí incluem-se as empresas – estão tendo de pensar mais na ética e na sustentabilidade, e menos no lucro. Vale lembrar também que, há duas semanas, a Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes) anunciou que, a partir de agora, recomendará às marcas de refrigerantes que façam publicidade apenas para o público acima de 12 anos, e deixará de veicular propaganda em programas de tevê que tenham mais de 35% do público abaixo dessa faixa etária.

Como observou o advogado Pedro Hartung, do Instituto Alana, as empresas e as pessoas que nelas trabalham não podem mais se furtar à obrigação de cumprir a lei, mesmo que ela represente uma contrariedade aos seus interesses e uma suposta ameaça a seus ganhos econômicos. Ele explica: “Diz-se suposta ameaça, pois as normas existentes, inclusive a Resolução 163 do Conanda, não regulam a veiculação comercial de determinado produto ou serviço, mas sim seu direcionamento. Portanto, qualquer produto que hoje é massivamente direcionado às crianças – como macarrões instantâneos, frangos empanados, brinquedos ou até mesmo seguros ou carros –, continuará a ter publicidade, mas eticamente redirecionada aos adultos.”

Nesses 15 de março, Dia Internacional dos Direito do Consumidor, façamos então um brinde. Que essa decisão do STJ seja a primeira de muitas outras que honrem as crianças – não só como sujeitos de direitos, mas também como consumidoras. Façamos valer o que já está previsto na legislação.

Nota
(1) Interscience. Informação e Tecnologia Aplicada. Outubro de 2003

 

Publicado originalmente en http://outraspalavras.net/destaques/para-nao-reduzir-criancas-a-consumidores/

 

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Alerta da Flacso Brasil em defesa da Democracia

O sistemático desrespeito aos direitos e garantias individuais e a notória politização de processos judiciais com a cumplicidade dos maiores veículos de comunicação do país alimentam uma situação de crise institucional que coloca em risco a principal conquista da sociedade brasileira: o Estado Democrático de Direito. A Constituição Federal de 1988 se encontra ameaçada e com ela todos os direitos conquistados por meio de lutas históricas de um povo que teve a coragem e a ousadia de construir um processo rumo a uma nação democrática. É preciso que os Organismos Internacionais acompanhem e registrem esse momento que caminha para o retrocesso de direitos e para um estado de violência social. Alertamos para que a sociedade brasileira não aceite retrocessos e que atravesse esse momento com muito respeito e compromissos individuais e coletivos.

17 de Marzo de 2016

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