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Três turnos por dia

Por: Ilka Oliva Corado

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Tento abrir a porta da padaria e o vento que está contra o faz mais difícil, mas além disso é uma porta antiga, com dobradiças antigas sem manutenção que tornam a porta uma fortaleza; quando finalmente consigo me bate nas costas, saio revirada para a frente e mal consigo manter o equilíbrio. A moça que está no caixa sorri e também o senhor mestre padeiro, um senhor de uns 75 anos de idade. Cale-se que a bandida me pegou nas costas, digo como forma de responder à saudação.

Busco pão francês, quero comer feijões coados com pão francês, mas o pão francês, francês da Guatemala, eu só encontro indo ao centro, digamos; nos arredores só encontro padarias mexicana, russas, polonesas e indianas, no supermercado compro baguete francesa, mas o pão francês da Guatemala só que se aprenda a fazê-lo e assim estou há vários anos que quero aprender a fazer pão e nada, a preguiça não me deixa.

Nessa padaria fazem pão mexicano e guatemalteco, mas o guatemalteco é só imitação porque tem a forma, mas a farinha e sua preparação são de estilo mexicano e o pão tem o sabor de pão doce mexicano. Os donos são árabes que encontraram nesse setor operário sua mina de ouro, têm várias padaria de pão mexicano com trabalhadores mexicanos, que as pessoas pensam que é na realidade uma padaria de seus paisanos. Vende até piñatas. Os donos mal aparecem para que os pessoas não os vejam, os que dão a cara são os trabalhadores mexicanos.

A tarde está fria, logo começará a nevar; os dias amanhecem nublados com capas de gelo fino sobre a grama e escarcha nas janelas dos carros. É outono e escurece na metade da tarde. Pego minha cesta e busco os pães franceses, pirujos, que os mexicanos chamam de bolillos; enquanto vou pegando um por um com a pinça é inevitável escutar o mestre padeiro tentando ter uma conversa com a jovem no caixa, que terá não mais de 20 anos, é uma menina, mal presta atenção; terá seus pensamentos em outro lugar, além de estar atarefada desinfetando o balcão, as pinças e as cestas onde os compradores põem os pães.

O padeiro insiste com grande necessidade, é como se tivesse sede e pedisse água. Já com o pão na minha cesta passo pelo caixa e enquanto a jovem faz a conta eu pergunto a ele: desculpe que me meta onde não sou chamada, mas foi inevitável escutar sua conversa; onde é que diz que quer ir passar suas férias quando for embora daqui? o mestre padeiro se compõe, ajeita a postura e torna a pôr o cotovelo sobre o balcão, imagino que está em seu tempo de descanso, porque está de uniforme com todas as medidas de higiene estabelecidas pelo estado em tempos de vírus.

Ele tem o cabelo grisalho, é magro, tão magro que seu aspecto não é saudável, se mata de trabalhar. Se nota o cansaço, na voz, no rosto, em seu corpo. Olhe, me diz, quando for embora daqui vou passear nas praias do México, em todas, vou deitar na areia para me bronzear, vou andar de lá para cá, de norte a sul, de oriente a ocidente e vou conhecer meu país, que não conheci porque vim diretamente do rancho para cá.

Quanto tempo faz que está aqui neste país? 25 anos e 23 nesta padaria. Aqui trabalho na parte da tarde e saio às 11:30 da noite e vou ao outro trabalho no hotel que está aqui perto, passando a rua vira à esquerda, conhece? Não. Bem, aí há um hotel e aí trabalho também das 12 às 6 de manhã e às 8 entro num restaurante para lavar pratos e saio às 12. Mas agora mesmo por causa do vírus não tenho tido trabalho no hotel nem no restaurante, apenas uma quantas horas.

Olhe que trabalhava dormido e por pouco me dava diabetes porque tomava desses sucos energéticos, desses, olhe e mostra umas bebidas que estão em uma geladeira, mas me descobriram o açúcar a tempo e deixei de tomá-los; tenho economizados seis mil dólares. Já criei meus filhos e com esse dinheiro vou regressar a meu México, para morrer por lá, mas antes quero ir às praias comer mariscos. Vou me dar a grande vida no México. Não imagina o que me custou economizar esse dinheirinho. Sim, sim, eu imagino. E de que lugar você é? De Jalisco, de um rancho na periferia, era puro mato no meu tempo, mas já está asfaltado agora e a gente chega mais rápido. Dizem que há até autopistas.

Meu pacote de pão espera, já paguei à caixa e está entrando mais gente na padaria que não tem muito espaço e com isso da distância social, o mais recomendável é que saia para que eles possam comprar à vontade. Me despeço da jovem e do mestre padeiro, desejando-lhe sorte em seu retorno ao México, que não sei quando será e se será, porque isso de regressar á a ilusão e a esperança de tantas pessoas indocumentadas que ao assomar a alba do novo dia, é o primeiro em que pensam para conseguir escapar momentaneamente da realidade do aqui e agora.

E como não, com 3 turnos por dia!

Fuente e imagen: https://cronicasdeunainquilina.com/2020/11/20/tres-turnos-por-dia/

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Le Guatemala mortellement blessé

Par Ilka Oliva Corado*

Traduit de l’espagnol pour El Correo de la Diaspora par : Estelle et Carlos Debiasi

Cela peut être une pandémie, une tempête, un coup de vent, une sécheresse, peu importe, tout est utilisé comme prétexte par l’État guatémaltèque pour piller et nuire davantage aux exclus. Peu importe quel gouvernement est au pouvoir, il n’y a pas de grande différence entre une marionnette et l’autre, ces voyous qui parviennent à s’asseoir dans le fauteuil n’arrivent que pour voler à pleines mains et se vanter des privilèges du pouvoir et de l’impunité. Le Guatemala est un pays mortellement blessé par des fils tyrans, médiocres et traîtres.

Au Guatemala le pire n’a pas de limite, l’étau ne finit jamais, le corps encaisse toujours, le cuir continue à donner plus de sangles, c’est une population que les gangs de bandits des oligarchies ont laissé avec les os à nu et en perpétuelle famine, les pressent en comptant les gouttes de sang, tandis que les délinquants se goinfrent de ce qui a été volé.

C’est une population mortellement blessée. Il n’est pas possible que l’État n’ait pas les ressources nécessaires pour faire face à l’urgence d’une tempête, que l’aide ne puisse pas atteindre les communautés dans le besoin, qu’il soit aussi insolent et dénigrant pour les zones rurales, les traitant comme inférieures, leur jetant de la nourriture dans des sacs en plastique depuis un hélicoptère de l’armée qui, en temps de dictature, atterrissait très bien partout où il allait et faisait tout ce qu’il fallait pour violer les populations. Ce n’est pas possible. Pourquoi y a-t-il une stratégie pour violer et non pour sauver ? Si c’est une entité médiocre et incapable qui ne travaille pas au bénéfice de la population, elle doit être éliminée.

C’est ne pas possible que l’été laisse les parents sans leurs enfants et les petits-enfants sans grands-parents en raison de la sécheresse et de la famine. Il n’est pas possible qu’un virus fasse s’effondrer le pays alors que ce qui devrait être, c’est que le gouvernement réponde le plus rapidement possible aux besoins de la population. Parce que le Guatemala a les ressources, ce qui se passe, c’est que les corrompus la volent, la pillent, la noient à partir de points stratégiques du gouvernement, lui attachent les mains et les pieds, la bâillonnent, la violent jusqu’à ce qu’elle se retrouve sans sens, laissant leur impunité durer.

De même il n’est pas non plus possible que les grands métiers des universités, les grands diplômés, les grands étudiants universitaires, les grands analystes et intellectuels, les grands artistes ne servent qu’à déclamer sur les réseaux sociaux et à faire preuve de bravoure et de cervelle là où ils peuvent se pavaner, là où d’autres les lancent des fleurs, où les tapis sont disposés les uns pour les autres, où ils peuvent être reconnus et applaudis par les mêmes personnes qui, médiocrement, ne marcheront jamais aux côtés des paysans et des ouvriers et n’embrasseront jamais leurs luttes. Car avant le bien-être de la population, il y a leur ego, leurs prétentions et leur soif de lumière, d’acceptation et de reconnaissance individuelle, même à cause des tripes des pauvres.

Non, ce n’est pas seulement la responsabilité des voleurs qui viennent au fauteuil, ni des oligarchies, c’est la tiédeur de ceux qui ont le savoir, et sont séduits par l’égo , le racisme, le classicisme qu’ils expriment. L’ambition les séduit, le besoin de vouloir tout contrôler, d’être le centre d’attention. Le dégoût qu’ils éprouvent pour ceux qui sont différents, pour ceux qu’ils considèrent comme inférieurs parce qu’ils n’ont pas le même statut social, la même carte universitaire, la même couleur de peau, la même ethnie les emporte.

C’est en grande partie la responsabilité des masses vaniteuses qui se prennent pour le dernier verre d’eau dans le désert simplement parce qu’elles sont urbaines, ou parce qu’elles parlent une langue étrangère, ou parce qu’elles ont voyagé dans d’autres pays en vacances. Parce qu’elles croient avoir une capacité d’analyse supérieure qui est inutile car elles n’agissent pas car pour agir et sortir du confort des réseaux sociaux, il faut du courage et le courage n’est pas donné par l’ethnicité, ni statut social ou éducatif, encore moins la paresse et la maladresse.

C’est le manque d’engagement de ceux qui peuvent tendre la main et décider de mettre le pied. Vous n’avez pas besoin d’être en position de puissance pour regarder l’autre dans les yeux et y mettre votre épaule. Ce qui se passe, c’est que nous nous croyons supérieurs, plongés dans des bulles, asservis à une misérable pensée qui ne nous permet pas de voir que les bras que nous avons sont pour nous aider et aider les autres. Parce que c’est bien de jeter la pierre et de cacher sa main. Parce que ceux qui mettent le sang, la faim, la poitrine, la fatigue et la vie sont toujours les mêmes, depuis des millénaires : les peuples originaires.

Nous avons mortellement blessé le Guatemala nous tous qui avons pu faire quelque chose et avec le chilate [1] dans nos veines, nous nous sommes assis pour voir comment les autres préparent le linceul.


Ilka Oliva Corado * pour son blog Crónica de una inquilina

* Ilka Oliva Corado, Peintre, écrivain et poète. Ilka Oliva Corado est née à Comapa, Jutiapa, Guatemala, le 8 août 1979. Elle a obtenu son diplôme d’enseignante en éducation physique pour se consacrer plus tard à l’arbitrage de football professionnel. Elle a étudié la psychologie à l’Université de San Carlos au Guatemala, une carrière interrompue par sa décision d’émigrer aux États-Unis en 2003, un voyage qu’elle a fait en tant que femme sans papiers, traversant le désert de Sonora dans l’état d’Arizona. Elle est l’auteur de quinze livres : En savoir plus sur l’auteur. @ilkaolivacorado

Crónica de una inquilina. Guatemala, le 10 novembre 2020.

El Correo de la Diaspora. Paris, le 14 novembre 2020

FUENTE: https://cronicasdeunainquilina.com/2020/11/17/le-guatemala-mortellement-blesse/

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Ilka Oliva Corado: única forma que posso expressar meus sentimentos é através da escrita

 Por: Ilka Oliva Corado


Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul


Recordo claramente esse instante, as palavras presas na garganta sem poder sair se tornavam um remoinho, o coração batia a mil e o encantamento mal me deixava dar um passo. Saí daquele lugar estonteada e me encontrar com a luz pálida da tarde abraçando a noite; olhei ao meu redor, respirei fundo e caminhei em direção ao ponto de ônibus; estava na zona 1 da capital guatemalteca e tinha 17 anos.

O curso de Educação Física tinha aulas o dia inteiro de segunda a sexta; para que os alunos descansassem um pouco nos davam uma tarde livre por semana, para a minha turma era a quarta-feira. Então eu às vezes me punha a caminhar pela zona 1, sozinha, porque gostava de observar e parar onde quisesse; assim foi como entrei a várias igrejas pelo puro afã de respirar o aroma do incenso que eu gosto, ver as formas dos círios e suas cores e as luzes das velas agonizantes queimando-se lentamente, levando consigo mesmas nem sei quantos preces dos fiéis que as deixavam ali. O silêncio muito peculiar desses recintos, o ar frio que passa por debaixo dos bancos como uma corrente que toca os calcanhares.

Arquivo Pessoal. Norte, o 15º livro de Ilka Corado, publicado em 8 de setembro de 2019.

Eu, que não havia passado das ruas do arrabalde e dos corredores do mercado La Terminal, caminhar pela zona 1 foi um descobrimento monumental, como impressionante foi o instante em que conheci o arco do edifício dos correios; lembro de haver entrado e observado lentamente tudo. Sem falar no dia em que caminhei nas cercanias do teatro nacional, aquele grande animalzão. Digo caminhar porque não tinha dinheiro nem para comprar um chiclete. Essa limitação do dinheiro eu a havia vivido sempre com as necessidades básicas de sapato, comida, a mensalidade do colégio, mas comecei a vivê-la mais quando entrei nas livrarias e não podia comprar um livro. Ficava enamorada deles e os deixava aí nas estantes, com o coração partido. Então quando cada dois meses nos davam por parte do governo um cheque com a quantidade exata para uma passagem de ônibus diária de transporte urbano para 60 dias, eu o gastava em livros. Do banco ia diretamente às livrarias e aí deixava até o último centavo; o dinheiro da passagem eu ia ver depois como me arranjava. Esses livros foram minha companhia naqueles anos. Eu os comprava nas versões que faziam para estudantes em livros de bolso, buscava os mais baratos para poder comprar a maior quantidade possível.

Mas naquela tarde, caminhando pelos arredores da igreja de São Domingos vi em um vitrine que anunciavam a projeção de um documentário, eu nem sabia o que significava essa palavras, não sabia o que era um documentário mas entrei chamada pelo nome e pela minha eterna curiosidade. Tive tanta sorte que a entrada era gratuita e acabei de entrar e a poucos minutos começou e tudo aquilo me maravilhou. O recinto de paredes brancas como as casas dos povoados de paredes rústicas pintadas com cal, uma enorme manta branca pendurada na parede e as imagens em branco e preto que saiam de um aparelho tão pequenininho que eu não podia crer que tanta atrocidade, tanta formosura e tanta história coubessem em algo tão pequeno. Saí dali com o coração partido em mil pedaços e com um revoo de sentimentos e palavras que me formigavam nos lábios; nesse instante me dei conta e soube por primeira vez que era incapaz de me expressar. O que havia me causado ver o documentário sobre a vida de Ana Frank não pude contar a ninguém, nunca. Foi tão profundo o que senti nesse dia, chorei esse tipo de pranto que não sai em lágrimas, mas se amarra no peito.

Para esses anos a poesia que havia começado a escrever em minha adolescência estava enterrada a três metros abaixo da terra, a deixei de lado, tudo o que havia começado a escrever aos 14 anos de idade se perdeu, enterrei. Como enterrei a pintura. Até que passaram os anos e longe daquele muro onde me sentava para escrever olhando para as montanhas verde garrafa, uma madrugada a poesia voltou a mim para salvar-me a vida uma vez mais. Publiquei 15 livros desde então, longe daqueles edifícios, daquelas ruas, daquele muro. Mas, por que ter um blog e publicar livros? Meu blog é meu livro de bordo, meu diário; a única forma em que posso expressar meus sentimentos mais profundos é por meio da escrita e é minha única forma de comunicação real, pura. Poderei falar, fazer vídeos, por aí conceder alguma entrevista (as quais recuso porque não gosto delas) mas a única forma em que posso expressar a profundidade dos meus interiores é através da escrita.

Sou néscia. Meus livros refletem minha ignorância, minha insistência e meu agradecimento. Meu amor próprio no qual trabalho todos os dias porque o amor também se aprende como se aprende a andar.

São essa obstinação por dar abrigo à adolescente que vagava desorientada pelas ruas da capital. Dizer-lhe que pode criar seus próprios livros, que pode expressar por meio da poesia, dos relatos, que pode pintar os rabiscos que desejar. E que não lhe importe se outros criticam sua instabilidade emocional, devido às suas formas. Porque não há formas precisas para expressar a profundidade da alma.  Meus livros são minha forma de amá-la, de abraçá-la, de dar-lhe abrigo e calor. E são esse instante, aquele instante na porta daquele edifício, acompanhando-a de regresso à sua casa depois de haver descoberto não só a magia monumental do documentário, a Ana Frank, mas a profundidade de seus silêncios e sua inexpressão.

E através dela às adolescentes que têm medo de sonhar porque lhes disseram que os sonhos não são para os pobres, para as loucas, para as putas, para as que cheiram cola, para as mamães solteiras, nem para as que vendem nos corredores dos mercados. Nem para as que trabalham em casas de segunda a sábado e saem nos domingos para dar uma volta no parque, vagando desorientadas nas ruas empoeiradas das grande urbes, com os braços doloridos de tanto passar pano e encerar o chão. Sim, meu livros também são para elas e sei que algum dia vamos nos encontrar, nem que seja através das filhas de suas filhas, mas nesse dia nos vamos a fundir em um abraço único e cálido finalmente. Para vocês é minha letra e minha pintura que significam a insistência das alienadas às oportunidades e à realização dos sonhos.

Nota: Em 8 de setembro de 2019 publiquei meu livro Norte, meu livro número 15. Esta foto não a publiquei, mas é minha fotografia favorita dessa série tomada pela magnífica Moira Pujols. E a celebro como celebro a cada uma das minhas pinturas e cada uma das minhas crias.

Fonte:  https://cronicasdeunainquilina.com

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La alegría de los pueblos dignos

La alegría de los pueblos dignos

Ilka Oliva Corado

Llega un momento en el que el abuso y la injusticia cansan a los pueblos y los hacen despertar en indignación, así es como salen a buscar la libertad y la democracia. Unos tardan más que otros, cada uno con sus procesos y su historia pero logran si se unen, vencer la impunidad y toda forma de dictadura. Son rarezas eso sí, pero por eso son hermosas estas alboradas que como campos florecidos llenan de ilusión y contagian la alegría de la gran fiesta popular.

Para unirse hay que tener sentido común y una sed inmensa por vivir en un territorio libre de neoliberalismo: sin abuso gubernamental, sin saqueos de los recursos naturales, sin censura, sin estados de sitio y con la plena libertad de la emisión del pensamiento. Para luchar hay que tener agallas, porque no es solo cosa de despotricar cualquier palabrería en redes sociales o manifestar en las plazas los sábados de ir a broncearse e ir por la tarde a tomarse las cervezas con los amigos para celebrar la hazaña de la nueva foto de perfil.

Porque mucha ha sido la sangre derramada en este continente para que nosotros ahora, de grandes atracadores de la moral vengamos con pretensiones de chambones y hagamos chapuces cuando lo que se necesita es valor y dignidad. Lo que sucedió en Ecuador y la forma en que la policía y el ejército dispararon contra su propio pueblo, es similar a lo de Colombia haciendo lo mismo, por las mismas razones. Las mismas razones que movilizaron al pueblo chileno a volcarse a las calles y dar un ejemplo al mundo de cómo se lucha cuando un pueblo está indignado. Indignado estaba el pueblo boliviano cuando salió a votar para recuperar la democracia. El pueblo haitiano ha vivido en indignación permanente pero, ¿quién lo escucha?

¿Cómo le hizo Bolivia? Eso es apoteósico, que pasarán generaciones y esa hazaña será una especie de relato mítico, tan mítico y grandioso como Túpac Katari y Bartolina Sisa. Como fabulosa fue la primera línea de jóvenes chilenos al frente de las manifestaciones, poniendo el pecho en defensa de los que venían atrás acuerpándolos. Esa primera línea en Guatemala y los que los acuerpan siempre han sido de los pueblos originarios, ellos solos al frente y ellos mismos cubriéndose las espaldas porque entre el Estado y la sociedad racista y clasista, saben que la puñalada vendrá por cualquier lugar. No por gusto en tiempos de dictadura se ensañaron contra ellos, tanto que los querían exterminar para darles las tierras a los ladronazos de siempre. A excepciones, claro está, de los mestizos que dieron la vida en la lucha por una sociedad más justa y los que sobrevivieron a ese tiempo de tortura colectiva.

En Colombia, los pueblos que deben salir huyendo de sus territorios se apuñuscan en cualquier lugar, convirtiéndose en desplazados que no importan al Estado porque el mismo Estado y su sistema de paramilitarismo los violentan hasta hacerlos renunciar a sus tierras. La minga los dignifica, la minga es dignidad, resistencia, es voz de lucha, es palabra de pueblo presente y firme en la búsqueda de sus derechos. Cuando la minga toma la carretera y va en busca de los tiranos, los tiranos se esconden porque es tan grande la dignidad de los pueblos originarios que ninguna impunidad puede con su luz.

Latinoamérica está herida de muerte, nos han secado los ríos, nos han talado las selvas y quemaron el follaje, un ecocidio tras otro. Los minerales salen de nuestros territorios para ser utilizados en otros, lejos, muy lejos y a nosotros nos dejan la burla. La limosna se la llevan los ladronazos de siempre que cuando llega el tiempo reciben su patada en el culo. Educación, salud, privatizadas porque un pueblo enfermo e ignorante es necesario para que la impunidad ejerza su mando territorial. Desapariciones forzadas, limpiezas sociales, tierra arrasada y líderes asesinados porque los pueblos temerosos y angustiados son necesarios para que un Estado saqueador y abusador funcione. Brasil de los últimos cuatro años es un ejemplo claro.

Celebramos el coraje de la minga colombiana, como la hazaña del pueblo boliviano y la dignidad del pueblo chileno, pero también nos preguntamos, ¿cuándo se cansarán los otros pueblos latinoamericanos que viven de rodillas en sistemas de impunidad y neoliberales? ¿Cuándo el valor y la indignación tomarán las calles y dirán basta al saqueo? ¿Cuándo honrarán la memoria de los que lucharon por liberar sus territorios? ¿Cuándo pensarán en el legado que les dejarán a las generaciones que vienen naciendo? Ese legado es decir; el país, ¿qué país quieren que vivan los que vienen? ¿El mismo país que recibimos o un país con sociedades más justas, con salud y educación públicas? ¿Un país donde se pueda caminar libremente sin temor a desaparecer? ¿Un país donde no sea castigado ser mujer, homosexual, indígena o negro? Un país donde el desarrollo para una vida integral no sea solamente un texto de planificación magisterial.

Un país donde la belleza del rocío sobre el pétalo de una flor no sea una quimera.

Un país donde la alegría de los pueblos dignos sea permanente. ¿Quién sueña con eso? Yo, sí.

Autora:

Ilka Oliva Corado

Fuente de la Información: https://www.aporrea.org/ddhh/a296699.html

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La alegría de los pueblos dignos

Por: Ilka Oliva Corado

Llega un momento en el que el abuso y la injusticia cansan a los pueblos y los hacen despertar en indignación, así es como salen a buscar la libertad y la democracia.

Unos países tardan más que otros, cada uno con sus procesos y su historia pero logran si se unen, vencer la impunidad y toda forma de dictadura. Son rarezas eso sí, pero por eso son hermosas estas alboradas que como campos florecidos llenan de ilusión y contagian la alegría de la gran fiesta popular.

Para unirse hay que tener sentido común y una sed inmensa por vivir en un territorio libre de neoliberalismo: sin abuso gubernamental, sin saqueos de los recursos naturales, sin censura, sin estados de sitio y con  la plena libertad de la emisión del pensamiento.  Para luchar hay que tener agallas, porque no es solo cosa de despotricar cualquier palabrería en redes sociales o manifestar en las plazas los sábados de ir a broncearse e ir  por la tarde a tomarse las cervezas con los amigos para celebrar la hazaña de la  nueva foto de perfil.

Porque mucha ha sido la sangre derramada en este continente para que nosotros ahora, de grandes atracadores de la moral vengamos con pretensiones de chambones y hagamos chapuces cuando lo que se necesita es valor y dignidad. Lo que sucedió en Ecuador y la forma en que la policía y el ejército dispararon contra su propio pueblo, es similar a lo de Colombia haciendo lo mismo, por las mismas razones. Las mismas razones que movilizaron al pueblo chileno a volcarse a las calles y dar un ejemplo al mundo de cómo se lucha cuando un pueblo está indignado. Indignado estaba el pueblo boliviano cuando salió a votar para recuperar la democracia. El pueblo haitiano ha vivido en indignación permanente pero, ¿quién lo escucha?

¿Cómo le hizo Bolivia? Eso es apoteósico, que pasarán generaciones y esa hazaña será una especie de relato mítico, tan mítico y grandioso como Túpac Katari y Bartolina Sisa. Como fabulosa fue la primera línea de jóvenes chilenos al frente de las manifestaciones, poniendo el pecho en defensa de los que venían atrás acuerpándolos. Esa primera línea en Guatemala y los que los acuerpan siempre han sido de los pueblos originarios, ellos solos al frente y ellos mismos cubriéndose las espaldas porque entre el Estado y la sociedad racista y clasista, saben que la puñalada vendrá por cualquier lugar. No por gusto en tiempos de dictadura se ensañaron contra ellos, tanto que los querían exterminar para darles las tierras a los ladronazos de siempre. A excepciones, claro está, de los mestizos que dieron la vida en la lucha por una sociedad más justa y los que sobrevivieron  a ese tiempo de tortura colectiva.

En Colombia, los pueblos que deben salir huyendo de sus territorios se apuñuscan en cualquier lugar, convirtiéndose en desplazados que no importan al Estado porque el mismo Estado y su sistema de paramilitarismo los violentan hasta hacerlos renunciar a sus tierras. La minga los dignifica, la minga es dignidad, resistencia, es voz de lucha, es palabra de pueblo presente y firme en la búsqueda de sus derechos. Cuando la minga toma la carretera y va en busca de los tiranos, los tiranos se esconden porque es tan grande la dignidad de los pueblos originarios que ninguna impunidad puede con su luz.

Latinoamérica está herida de muerte, nos han secado los ríos, nos han talado las selvas y quemaron el follaje, un ecocidio tras otro. Los minerales salen de nuestros territorios para ser utilizados en otros, lejos, muy lejos y a nosotros nos dejan la burla. La limosna se la llevan los ladronazos de siempre que cuando llega el tiempo reciben su patada en el culo. Educación, salud, privatizadas porque un pueblo enfermo e ignorante es necesario para que la impunidad ejerza su mando territorial. Desapariciones forzadas, limpiezas sociales, tierra arrasada y líderes asesinados porque los pueblos temerosos y angustiados son necesarios para que un Estado saqueador y abusador funcione. Brasil de los últimos cuatro años es un ejemplo claro.

Celebramos el coraje de la minga colombiana, como la hazaña del pueblo boliviano y la dignidad del pueblo chileno, pero también nos preguntamos, ¿Cuándo se cansarán los otros pueblos latinoamericanos que viven de rodillas en sistemas de impunidad y neoliberales? ¿Cuándo el valor y la indignación tomarán las calles y dirán basta al saqueo? ¿Cuándo honrarán la memoria de los que lucharon por liberar sus territorios? ¿Cuándo pensarán en el legado que les dejarán a las generaciones que vienen naciendo? Ese legado es decir; el país, ¿Qué país quieren que vivan los que vienen? ¿El mismo país que recibimos o un país con sociedades más justas, con salud y educación públicas? ¿Un país donde se pueda caminar libremente sin temor a desaparecer? ¿Un país donde no sea castigado ser mujer, homosexual, indígena o negro? Un país donde el desarrollo para una vida  integral no sea solamente un texto de planificación magisterial.

Un país donde la belleza del rocío sobre el pétalo de una flor no sea una quimera.

Un país donde la alegría de los pueblos dignos sea permanente. ¿Quién sueña con eso? Yo, sí.

Fuente: https://rebelion.org/la-alegria-de-los-pueblos-dignos/

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A Comapa, mi nuevo poemario.

Por: Ilka Oliva Corado


Cuando cumplí 15 años fui a conocer Comapa, el pueblo donde nací. Me enamoré a primera vista,   de los niños de panzas cundidas de amebas saltando descalzos en los charcos de agua, ¡la felicidad de los inocentes!  De las sombras de los encinos rojos que daban vida a los barrancos. Y en los senderos la compañía de los guayabos silvestres, los palos de jiote, los nances, las manzanas rosas,  los chaparrones y los palos de jocote de corona.

Las milpas que se atrevían a dar flor en aquella tierra árida de pedrerío por doquier, porque así es Comapa, allá hay más piedras que tierra y el agua potable llega a cuenta gotas a las cercanías del pueblo, pero nada más. Las aldeas siguen saciando su sed con el agua de los escasos nacimientos, eso en invierno pero, ¿y en verano?

VIII

Caritas de lozanía
manitas de barro fresco
las niñas de Las Crucitas
son robles,
encinos en la floresta.

Y yo me enamoré perdidamente del color chiltoto de las tejas quebradas que tapaban los techos de las casas de adobe, del bajareque y de los toles de morro para beber atol. De los polletones de barro embadurnado con las manos de las abuelas, de  los comalones de barro donde se echaban  los pishtones,  los tazcales y se freían los huevos con manteca de coche o con lo que quedaba de la medida de mantequilla o el aceite que se compraban si se lograba vender una carga de leña, unos pollos o de perdida una medida de maíz o frijol de la cosecha.

Y de la  misma forma los aldeanos compraban su ropa, si vendían por pocos lo que iban produciendo. Así los vi llegar al pueblo con sus panas de jocotes de corona para el tiempo de cosecha, costales de ayotes, de frijol camagua, frijol nuevo, máiz nuevo, maicillo, sus cargas de leña; los vendían o los hacían trueque en el día de mercado. Al atardecer iban de regreso con sus pedazos de tela, sus botas de hule nuevas o de segunda mano, como de segunda mano los zapatos también, sus medias de gas para los candiles.  Candelas, fósforos, baterías para los radios que colgaban en las vigas de los corredores de las casas para sintonizar alguna radio de El Salvador, las de Guatemala no se escuchaban.  El azúcar, la sal y la cal siempre artículos de primera  necesidad en aquel pueblito perdido entre los cerros y piedras.

Me enamoré, sí, perdidamente del chipilín fresco con arroz y crema, del caldo de  hojas de guías en los que iban quilete o hierba mora, guías de ayotes, de güisquil, hojas de chile chiltepe y las que fueran para darle sustancia y sustento al caldo. Los tomates  y las cebollas siempre fueron lujos, caros de caros. Pero la rapadura canche y oscura abundaban junto con el jabón de aceituna, la chicha de piña y de máiz, el ayote  y el atol shuco. La tortilla con leche fue mi desayuno preferido desde entonces.  Y lujo era ver aquellos tamales de viaje, los ticucos y los tamales de elote.

Enamorarse duele, claro que sí y a mí me dolió tanto ver a niñas de mi edad ya con dos o tres hijos, casadas o en convivencia  con hombres que les doblaban la edad o hasta tres veces mayores que ellas. Ellas con la responsabilidad de todo en la casa, los hombres trabajando la tierra que rentaban para lograr una cosecha de máiz, frijol o maicillo para octubre y así ayudarse con lo básico de la sobrevivencia. Y los niños que se casaron niños, parejas de adolescentes que no pasaban de los 14 años y ya con hijos. La cantidad de niñas que tenían  hijos de sus familiares, porque fueron abusadas por estos, que era la forma de apartarlas para decirles a los otros hombres que esas niñas nunca se casarían, que no las iban a dejar casarse, que les pertenecían. Porque el machismo es crudo pero en oriente además es cruel.

El bar del pueblo, lleno de patojas de otros municipios y salvadoreñas, que para el día de pago no se daban abasto con tanto aldeano que llegaba a dejar allá el salario para quedarse borrachos durmiendo en las banquetas. A deshoras subían las esposas de las aldeas a traerlos y se los llevaban montados en las bestias que con los cascos de sus patas hacían sonar los adoquines de las calles del pueblo.

III

Trinar de aves
galantes las libélulas
el eco guarda el murmullo
de la quebrada
que en agosto rebosa
con la felicidad de los campesinos:
primera cosecha.
Máiz y frijol nuevo.

Así fui conociendo que la yegua tal que hace tal ruido al caminar es de fulano, que ahí va mengano de la zutana porque su  bestia renquea de una manita, que el caballo de perencejo hace tal ruido al caminar, todo esto a oscuras porque en aquellos tiempos la gente se acostaba a  la hora de la oración y los candiles se apagaban cuando comenzaban a aparecer las primeras luciérnagas. Y conocí pues los horarios de cada quién, que fulano sube a tales horas al pueblo y baja a la aldea de regreso a tales, que mengana va con la masa al molino a tales horas y regresa a tales y lleva de regreso quesadillas y semitas de donde doña Adelona. En las aldeas era común comer marquesote pero  las semitas, panes de arroz  y quesadillas  eran famosas las que hacía doña Adelona. Y también por supuesto, no podía ser de otra manera,  caí rendida a los pies de las semitas, los panes de arroz y las quesadillas de doña Adelona, hasta la fecha las añoro.

Ver a los niños desgranando máiz con las manos ampolladas y las niñas moliéndolo en piedras y el güiralito acarreando agua de La Pilona en el centro del pueblo. Era otra vida tan distinta a la del arrabal, mucho más rústica pero tan llena de placeres simples, donde las horas pasaban sin prisa y se sentaban a descansar bajo la sombra de los morros  y los amates. Las vi beber agua de la quebrada al medio día, escuchando el canto de las chicharras. Conversaban a veces de las pepescas del río Paz.

Aquel viaje a Comapa me nutrió  la raíz y la identidad, me dio ese sentido de pertenencia que también siento por Ciudad Peronia. En mi escritura desde el primer día han estado ambos, decir Ilka es decir Comapa y Ciudad Peronia,  yo no soy sin estos dos lugares, no podría ser, me haría falta algo, lo vital, lo esencial. Es por eso que hoy publico este poemario que escribí el año pasado, como un saludo y una reverencia  a ese pueblo maravilloso que me dio tanto y al que le debo mi fascinación por las flores de chacté, las chiliguas y las chilipucas.

Comapa es mi libro número 16, publicado por Ilka Editorial. Está disponible en Amazon.com y en IlkaEditorial.com

 Fuente e imagen: https://cronicasdeunainquilina.com

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Nos EUA, europeus jamais realizariam trabalho que fazem os indocumentados nas construções

Por:  Ilka Oliva Corado

Tradução do Beatriz Cannabrava, Revista Diálogos do Sul

Não têm contrato, lhes dão trabalho só de palavra e lhes pagam o que o empregador quiser. São os que mais trabalham e os que menos dinheiro geram. São os latino-americanos que trabalham na construção nos Estados Unidos. Seus corpos são de meninos, de adolescentes recém desenvolvidos, a pele grudada nos ossos, de estatura baixa e até um pouco frágeis se olhamos bem.

Chegam em magotes para trabalhar nos tetos das casas em construção, como pontos finos se vêm à distância das alturas. Mas são inquebrantáveis os homenzinhos de lombo duro; quando menos esperam os demais deixam de estar de joelhos e se põe em pé.

Como os que colocam os carpetes no chão, metros e metros de carpetes. Estes homens que em sua maioria são indígenas saídos do campo latino-americano e trocaram o trabalho da terra pelo da construção pesada. Porque nos Estados Unidos ficou para trás a peneira, o cinzel, a colher e a espátula, entre a fumaceira da industrialização as ferramentas mudaram e os lombos dos migrantes indocumentados latino-americanos são os que carregam as grandes tábuas e os pacotes de telhas artificiais que adornam os tetos das casas quando o braço robótico da grua não alcança.

Os empregadores que podem ser estadunidenses, anglo-saxões, latinos com documentos, europeus, asiáticos ou negros endinheirados, jamais levantam o peso que carregam os lombos dos homenzinhos.  Em construção, os lombos fornidos dos trabalhadores europeus, galantes, bem nutridos jamais realizam o trabalham que fazem os indocumentados latino-americanos.

Entre o sol abrasador do meio dia se lhes vê trabalhando nas estradas em construção, nas temperaturas abaixo de zero no inverno, nos horários da madrugada, aí estão os homenzinhos latino-americanos fazendo o trabalho mais pesado porque a maquinaria, o braço robótico, a grua, o caminhão de carga, tudo isso é manejado pelo europeu, pelo anglo-saxão, pelo latino nascido no país; o latino migrante é o que se lança entre os esgotos para desentupi-los, é o que faz o sulco, o que tira a terra, o que carrega o balde cheio de cimento fresco. De estatura parecem meninos ao lado dos anglo-saxões e dos europeus, dos afro bem fornidos que jamais serão relegados ao trabalho do indocumentados.

Saíram do campo latino-americano para trepar nos tetos dos arranha-céus, para colar paredes de elevadores, para cortar lâminas de vidro, para carregar pedaços de árvores que adornam os jardins das mansões. Para meter-se até o pescoço nos esgotos das estradas, dos restaurantes e desentupir banheiros nos estádios. Pequenos, insignificantes em estatura nesse país de homens altos e fornidos. Eles como os povos originários deste país, têm a estatura milenar e a força e a resistência milenar, que parecem não cansar nunca porque nunca descansam, trabalham de segunda a domingo até três turnos.

Pelo trabalho que realizam poderiam ganhar o duplo ou o triplo do que ganham seus companheiros europeus ou afros, mas isso não acontece. E com regularidade o que mais se aproveita desse lombo curtido é o latino que já conseguiu ter seus documentos, ou o latino nascido no país que é prepotente igual ou pior do que o que já tem documentos. E não digamos se é originário do mesmo país, do mesmo departamento ou do mesmo povoado. E se é família esse lombo se descasca com sal e limão e esse espírito é humilhado até que perca totalmente as esperanças.

Mas são inquebrantáveis os homenzinhos de lombo duro; quando menos esperam os demais deixam de estar de joelhos e se põe em pé, não importa se ficaram ajoelhados a metade de suas vidas, um dia conseguem levantar-se e caminham com a dignidade, fortaleza e resistência milenar de seus ancestrais.

Fonte: https://cronicasdeunainquilina.com

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