A ministra da Cultura defendeu ontem, em Luanda, que as crianças devem ser alfabetizadas, nos primeiros anos de escolaridade, através das suas línguas maternas, por ser uma forma de promoção da comunicação, compreensão, criatividade e de haver uma aprendizagem de qualidade.
Carolina Cerqueira, que discursava na cerimónia de abertura do ciclo de palestras alusivo ao Dia Internacional da Língua Materna, ontem assinalado, lembrou que a política cultural de Angola recomenda o estudo e a promoção das línguas maternas por serem as que melhor servem de veículo de cultura e transmissão de pensamento.
“Logo após a nossa Independência, o Governo co-meçou a pensar em alfabetizar em línguas nacionais. Foi por isso que, em 1979, foi criado o Instituto Nacional de Línguas, que, mais tarde, em 1985, foi transformado em Instituto de Línguas Nacionais, para se dedicar, única e exclusivamente, ao estudo científico das línguas nacionais e das tradições orais”, realçou a ministra.
Carolina Cerqueira lembrou ainda que, através da resolução número 3/86, de 23 de Maio, o Conselho de Ministros aprovou, a tí-tulo experimental, os alfabetos das línguas nacionais kikongo, kimbundo, côkwe, umbundo, mbunda e kwanhama, e as suas respectivas regras de transcrição.
“São esses alfabetos que têm servido de base ao Mi-nistério da Educação na inserção das línguas nacionais no sistema educativo”, acrescentou. Carolina Cerqueira disse que, em Angola, a diversidade linguística se manifesta, profundamente, no mosaico cultural nacional, o que permite a cada cidadão escolher e encontrar os meios de se comunicar e de aprender na sua língua materna.
A titular da pasta da Cultura acentuou que, para respeitar a diversidade cultural e linguística, o Governo desenvolveu um programa que valoriza o plurilinguismo e promove o desenvolvimento equilibrado do português e das línguas nacionais.
A responsável lembrou que o Governo defende ain-da a formulação de políticas linguísticas que tenham em conta a incontornável complementaridade entre as diversas línguas maternas de Angola.
Sobre a actual situação da língua portuguesa no país, Carolina Cerqueira disse que a língua é materna de muitos angolanos e a mais falada no país. “O português implementou-se no seio das nossas comunidades, tornando-se no veículo da cultura das nossas populações e constituindo um forte laço de amizade nacional e de promoção da paz, do diálogo, da democracia, do Estado de Direito, dos direitos do homem e da justiça social”, disse, para acrescentar que, em qualquer espaço cultural, a língua é o conjunto das artes e costumes que ela veicula e a que temos acesso através dela, ocupam um lugar de grande destaque.
A ministra afirmou que a língua, na sua essência, é um bem universal, que não pertence unicamente a um limitado espaço geográfico, mas, sim, a todos os homens e todas as mulheres que escolheram aprendê-la, utilizá-la, torná-la fecunda nas culturas, nos seus imaginários, através dos seus talentos e no espírito de abertura e de enriquecimento do colectivo.
Desafiou os jovens “a aprender, estudar, investigar e cultivar as identidades próprias de cada uma das línguas maternas que falamos, não só para as confrontar, mas, também, para as enriquecer em beleza e colocá-las à disposição de todos que queiram ter acesso a elas”.
Fuente: http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/ministra_da_cultura_defende_ensino_nas_linguas_maternas